terça-feira, 28 de setembro de 2010

Santo António de Lisboa - I



SANTO E MILITAR


Nascido em Lisboa entre 1191e 1195, numa família de ascendência nobre, era filho de Martinho de Bulhões e de D. Maria Teresa Taveira, tendo sido baptismado com o nome de Fernando, reinava então em Portugal D. Sancho I, O Povoador.
Fez os seus primeiros estudos na escola da Sé, a dois passos de sua casa, e aos 15 anos ingressou na Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, no mosteiro de S. Vicente de Fora, indo depois para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, ao tempo um importante centro de cultura medieval e eclesiástica da Europa, onde completou a sua educação com vista ao sacerdócio, começando a ser notado pelo seu talento e prodigiosa memória. Mantém-se aí até 1220, altura em que depois de receber as ordens, troca o hábito dos cónegos regrantes pelo burel dos franciscanos e ingressa no pequeno convento de Santo Antão dos Olivais, nos arredores da cidade, recebendo aí o nome de frei António. Diz-se que foi a chegada das relíquias dos Santos Mártires de Marrocos, (cinco missionários franciscanos decapitados pela fé no Norte de África numa missão de evangelização), que o levou a esta decisão, ou porque a humildade desta Ordem, que entretanto chegara a Portugal, o atraísse.
Levado pelo seu entusiasmo missionário, embarcou para o Norte de África, mas uma doença prolongada obrigou-o a regressar a Portugal. Porém, como os desígnios de Deus são insondáveis, uma forte tempestade levou o navio em que seguia a aportar às costas da Sicília. Estávamos então no ano de 1221, e em Assis, comparticipa no capítulo geral convocado pelo fundador da Ordem. Retira-se depois para um eremitério onde passa pouco mais de um ano em oração e meditação, fazendo-se notar pela sua humildade.
É chamado a Forli, onde faz a sua primeira pregação perante os monges franciscanos e dominicanos de Itália, e onde os seus extraordinários dons de orador se revelam e se tornam conhecidos. Segue para Bolonha onde é nomeado doutor eclesiástico conhecendo aí S. Francisco de Assis, que lhe dá a incumbência de ensinar Teologia nas escolas franciscanas tendo sido professor nas Universidades de Bolonha, Toulouse, Montpellier, Pádua e Limoges, dedicando-se também à pregação e fundando a primeira escola da Ordem, que dirigiu. Entre 1224-1225 vai para França pregar contra Cátaros e Albigenses, e dois anos mais tarde é nomeado Custódio dos Frades Menores. Em 1127 é Superior Maior da província da Romagna, que abrangia todo o Norte da Itália, pregando em todas as suas 55 igrejas e exercendo esse cargo até 1230. A extensão do conhecimento profundo das Escrituras, o seu invulgar poder de comunicação arrebatando os que o ouviam, aliado a uma boa figura física, atraíam aos seus sermões tanta gente, que o Santo tem de pregar em campo aberto, chegando a reunir 30.000 pessoas para o ouvirem.
Durante os dez anos que passa fora de Portugal, consolida a sua fama de erudito e extraordinário orador, já com fama de santidade, o que leva o Papa a nomeá-lo seu pregador e leitor, pedindo-lhe comece a redigir os seus 57 “Sermões Dominicanos e Festivos”, imbuídos de uma vertente filosófica, onde são frequentes citações de Santo Agostinho, São Jerónimo, S. Gregório entre outros, mas também de Aristóteles, Cícero, Séneca e demais pensadores gregos e romanos.
Em 1231, de acordo com o papa Gregório IX, regressa a Pádua, que ele considera a sua “casa espiritual”, já bastante doente, com o corpo debilitado pelo jejum e pela penitência, instalando-se no castelo de Camposampiero, cujo dono era um amigo seu, onde se entrega à meditação e à compilação dos seus “Sermões”. Um dia, estando à mesa, sente-se mal e pede que o levem para Pádua, mas sentindo-se desfalecer, fica no convento das clarissas em Arcella junto às portas da cidade, aí falecendo a 13 de Junho desse mesmo ano com 36 ou 40 anos de idade. As suas últimas palavras foram: “Vejo o Senhor”.
Quatro dias depois é levado para Pádua, conforme o seu último desejo e aí sepultado, mas em 1263, os seus restos mortais são trasladados para a basílica de Pádua, entretanto construída pelos paduanos em sua homenagem.
Foi canonizado pelo Papa Gregório IX, (que quando o conheceu, e admirado como seu muito saber lhe chamou “Arca do Testamento”), na catedral de Espoleto, em Itália, em 30 de Maio de 1232, menos de um ano após a sua morte, sendo o processo de canonização mais rápido da Igreja Católica. Foi proclamado doutor da Igreja pelo papa Pio XII, em 1946, que o considera “exímio teólogo e insigne mestre em matérias de ascética e mística”. É o vigésimo nono dos aureolados como tal, e o primeiro de Portugal.
A quantidade da sua obra literária, que se circunscreve apenas aos seus “Sermões”, embora pequena, dá, no entanto, para se apreciar o grau da sua profunda cultura teológica, recebida nos mosteiros portugueses, e que lhe permitiu encaminhar os Frades Menores para uma cultura de raiz agostiniana, que lhe era tão cara.
Após a sua canonização, o seu culto estendeu-se de tal modo, que pode ser considerado “um santo de todo o mundo”. Em território português, ou de expressão portuguesa, é conhecido como Santo António de Lisboa, mas lá fora é nomeado como S. António de Pádua, pois é costume da igreja nomear os seus santos pela terra onde faleceram e onde estão enterrados.
A tradição da sua vida em pobreza e humildade, assim como a da sua oratória e santidade, levaram a que a religiosidade popular lhe atribuísse um sem número de milagres que o tornaram num taumaturgo, e que a própria ordem franciscana ajudou a difundir, fundando igrejas, mosteiros e altares, em seu nome.
Tornou-se em breve, o Santo Nacional do povo português que a ele recorre para todas as suas necessidades: Padroeiro dos pobres e de várias cidades, Santo casamenteiro pelas moças casadoiras, sendo festejado no dia 13 de Junho, onde a sardinha assada, o casamento das “Noivas de St. António e o desfile das Marchas Populares são na cidade de Lisboa o ponto alto dos festejos em honra do Santo. Protector dos animais, advogado das almas do purgatório, protector dos náufragos, fazedor de milagres, é também invocado através dos “responsos” para encontrar objectos perdidos, etc.
Uma das tradições mais antigas em sua homenagem, é a distribuição de pão aos necessitados no dia do Santo, que segundo reza a lenda, têm de ser guardados dentro de uma lata de mantimentos para garantir comida até ao próximo Junho e que a tradição garante não ganharem mofo.
Foi também adoptado por vários regimentos portugueses, como seu patrono, principalmente durante as guerras de Restauração, Sucessão e Peninsular, o que levou Santo António a começar uma carreira militar, depois de ter falecido, chegando mesmo a ser condecorado.

Fontes: Wikipédia

www.agencia.ecclesia.pt

Serrão, Joaquim Veríssimo – História de Portugal, vol. 1, editorial Verbo, 2ª edição.

Saraiva, José Hermano – História de Portugal, edições Alfa, vol. 2, 1983

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