domingo, 30 de janeiro de 2011

Contos árabes - II


História da Jovem Esquartejada - I

Harun-al-Raschid (aquele que segue um caminho recto), o célebre califa de Bagdade, tinha o costume de deambular pelas ruas da cidade acompanhado pelo seu fiel vizir, Giafar Al-Barmaki, para conhecer as necessidades dos seus súbditos e melhor poder administrar a justiça.
Ora numa destas noites, passando eles por uma rua miserável, encontraram um velho pescador, que lamentava tristemente a sua sorte:
“Na verdade, que pode ser mais desolador do que o pobre, o estado do pobre, o pão do pobre e a sua vida?
Se é Verão, esgota as forças; se é Inverno, só cinzas tem para se aquecer.
Se se detém, para o escorraçar os cães se precipitam. É um miserável ser, objecto de ofensas e de escárnio. Oh! Quem há por aí que mais miserável seja?
Se não for ele a gritar a sua queixa e a mostrar a sua miséria, quem a lastimará?
Oh! Se é esta a vida do pobre, quem me dera morrer!”.
Quando lhe perguntaram a causa dos seus lamentos, o velho respondeu que tinha trabalhado todo o dia, mas como nada tinha conseguido pescar, não tinha com que sustentar a família. Então o califa disse-lhe para voltar a deitar as redes, que o que quer que nelas viesse, ele lho compraria por cem moedas de ouro.
Satisfeito, o pescador lançou de novo as redes ao rio e quando as puxou encontrou nelas um pesado cofre selado. O califa mandou abrir o cofre e, lá dentro, encontrava-se o corpo de uma linda adolescente, morta e cortada em pedaços. Indignado, Harun-al-Raschid gritou para o seu vizir:
“Que desgraça! Malvado vizir, será necessário que, no meu império, as pessoas sejam assassinadas e lançadas ao rio para que, no dia do Juízo, eu pague por estes factos? Por Alá! esta mulher será vingada e o seu assassino sofrerá a morte mais cruel!”. E acrescentou: “Mandar-te-ei crucificar á porta do meu palácio, a ti e a quarenta membros da tua família, se não me trouxeres o assassino desta mulher para que lhe seja aplicado o seu justo castigo”.
Giafar pediu três dias de prazo para o cumprimento desta missão, mas, como não conseguisse encontrar o criminoso, ao quarto dia apresentou-se ao califa, que mandou apregoar a sua morte por toda a cidade.
Já se encontravam junto ao patíbulo, aguardando o carrasco o sinal do califa para proceder à execução…

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