sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Inês de Castro - I

A morte de Inês de Castro – Karl Briullov, 1834

“Por que semelhante amor, qual elRei Dom Pedro ouve a Dona Enes, raramente he achado em alguuma pessoa, porem disserom os antiigos que nenhuum he tam verdadeiramente achado, como aquel cuja morte nom tira da memoria o gramde espaço do tempo” – Chronica do Senhor Rei D. Pedro I, Fernão Lopes.
A 7 de Janeiro de 1355, nos Paços de Santa Clara, D. Inês de Castro era executada por”razões de Estado”, a mando de El-Rei D. Afonso IV, depois de ouvidos os seus conselheiros, aproveitando a ausência do Infante D. Pedro, que tinha saído para a caça.
Chegada a Portugal em 1340, no séquito de D. Constança Manuel, e de uma beleza extraordinária, que lhe valeu o apelido de “colo de garça”, a par de uma ridente mocidade, deslumbrou de imediato o herdeiro do trono que por ela se apaixonou. Depois da morte da Infanta D. Constança, mulher do Infante, passaram a viver maritalmente, tendo nascido dessa união quatro filhos, um dos quais faleceu ainda muito menino.
Intrigas políticas e palacianas, levaram a que esta relação de cerca de 15 anos, tivesse um final trágico naquela clara manhã de Janeiro, quando o meirinho-mór, acompanhado de Diogo Lopes Pacheco, Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves, conselheiros de D. Afonso IV, mandou o carrasco decapitar Inês, abandonando depois o seu corpo justiçado nas lajes do pátio.
A fúria de D. Pedro, quando ao chegar da caça, encontrou Inês já morta, foi terrível, dando lugar a uma guerra civil que durou meses.
Em 1360, já depois de subir ao trono, D. Pedro consegue a extradição de dois dos culpados da morte de D. Inês, mandando-os executar cruelmente. Declarou depois que tinha casado com ela, sete anos antes, em Bragança, mandando trasladar os restos mortais da sua amada, do Convento de Santa Clara, em Coimbra, para um magnífico túmulo, no Mosteiro de Alcobaça, cuja estátua jacente ostenta uma coroa de rainha.
A história destes trágicos amores resistiu aos séculos. A verdade e a lenda confundem-se no imaginário dos homens das letras da altura, começando pela poesia “As trovas à Morte de Inês de Castro” de Garcia de Resende, que fazem parte do Cancioneiro Geral de 1516, passando por Luís de Camões, e tantos outros, estendendo-se à prosa, ao teatro, cinema, música, pintura e escultura, atravessou fronteiras e conquistou o mundo, transformando-se num Mito de Amor Eterno…
De dois poemas de Tomaz de Figueiredo, extraí estes excertos que supõem uma conversa entre os dois amantes. Podemos imaginá-los, quando depois da trasladação dos restos mortais de Inês, D. Pedro pede que o deixem a sós, junto do túmulo da sua amada:

Ouves, Inês, a minha voz aí,
Nesse leito rendado que te dei?
Inês, porque não falas, não respondes,
Cabeça de oiro e luz, cabeça amada?
Ouves, carne de flor, boca de mel?
Galopei, galopei, a socorrer-te.

Porque é que não chegaste, Pedro, a tempo?
Amado, o tempo nunca volta, nunca!
O tempo é como as nuvens, como as dores,
Que nunca são as mesmas, como as lágrimas.


Fontes: Figueiredo, Tomaz – “Viagens no meu reino”, Obras Completas, excertos dos poemas “Estavas linda Inês” e “Até ao fim do Mundo”.

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