segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

O JURAMENTO DO ÁRABE - G. Crespo


Baçus, mulher de Ali, pastora de camelas
Viu de noite, ao fulgor das rútilas estrelas,
Wail, chefe minaz de bárbara pujança,
Matar-lhe um animal. Baçus jurou vingança;
Corre, célere voa, entra na tenda, e conta
A um hóspede de Ali a grave e inulta afronta.

-«Baçus, disse tranquilo o hóspede gentil,
«Vingar-te-ei com meu braço, eu matarei Wail.»
Disse e cumpriu.

Foi esta a causa verdadeira
Da guerra pertinaz, horrível, carniceira
Que as tribos dividiu. Na luta fratricida
Omar, filho de Amru, perdera o alento e a vida.

Amru, que lanças mil aos rudes prélios leva,
E que em sangue inimigo, irado, os ódios ceva,
Incansável procura, e é sempre embalde, o vil
Matador de seu filho, o tredo Muhalhil.

Uma noite, na tenda, a um moço prisioneiro,
Recém-colhido em campo, o indómito guerreiro
Falou severo assim:
«Escravo, atende, e escuta:
«Aponta-me a região, o monte, o plaino, a gruta,
«Em que vive o traidor Muhalhil, dize a verdade;
«Dá-me que o alcance vivo, e é tua a liberdade!»

E o moço perguntou:
«É por Allah que o juras?»
- Juro, o chefe tornou –
«Sou o homem que procuras!
«Muhalhil é o meu nome, eu fui que espedacei
«A lança do teu filho, e aos pés o subjuguei!»

E, intrépido, fitava o atónito inimigo.

Amru volveu: - És livre, Allah seja contigo!

Gonçalves Crespo - “Nocturnos”

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