sexta-feira, 4 de março de 2011

Botticelli – II

O Nascimento de Vénus

Este quadro de Sandro Botticelli, pintado cerca de 1484, e pertencendo à colecção da Galeria dos Uffizzi, em Florença, foi a primeira obra de grandes dimensões (172,5x278,5) da época do Renascimento, com um tema exclusivamente mitológico, produto do pensamento neoplatónico, em que a deusa se afirma como a alegoria do Humanismo. Nesta época, o corpo representava a encarnação da beleza ideal.
Vénus, a deusa romana da beleza e do amor, nasceu quando Urano foi castrado por Saturno, e os seus órgãos genitais atirados ao mar. Da espuma que se formou, nasceu a deusa, que empurrada por ventos favoráveis, chegou a Pafo, na ilha de Chipre, ou até Cítera, na ilha grega com o mesmo nome, onde a vestiram e adoraram. Aceite no panteão dos deuses gregos como Afrodite, passou depois para o romano, com o nome de Vénus. Foi sempre uma deusa indomável, tal como o mar de onde veio, e tal como ele, o amor que representa é sempre imprevisível, misterioso e quase sempre dominador.
O filósofo grego Platão estabelecia uma distinção entre Afrodite Urânia, cujo amor era espiritual (ou divino), e Afrodite Pandemon, que representava o amor secular (ou profano).
Neste quadro, representando o nascimento da deusa, Vénus, no centro da composição, ergue-se em cima de uma concha, tapando pudicamente o corpo com as mãos e com o auxílio da sua longa cabeleira dourada, enquanto é impelida para a ilha pelas ondas e por Zéfiro, o deus do vento Oeste, que abraçado a sua esposa Clóris, sopra suavemente. Representam o “espírito do amor” que enforma e molda a matéria.
É aguardada por uma das Horas, ninfas que presidiam às estações do ano. Pelo vestido florido que ostenta, esta divindade representa a Primavera, a estação do renascimento e da renovação. Na cintura leva uma faixa de rosas e nos ombros uma grinalda de mirto, símbolo do amor eterno. Aos seus pés, uma anémona azul reforça a ideia da chegada da Primavera. Nas mãos traz o manto cósmico destinado a cobrir a nudez da deusa. O manto rosado, está decorado com açucenas, símbolo de pureza, pois a deusa nua, que aparece no mais puro esplendor da sua beleza, e sem qualquer sombra de erotismo, é a Vénus Urânia, inspiradora do “amor celeste”.
De acordo com o ideal do neoplatonismo, o quadro tem também uma simbologia cristã, pois a concha e a água estão associadas ao baptismo, e os zéfiros, munidos de asas, parecem anjos transmitindo à deusa o seu sopro divino.
No laranjal, as árvores estão cobertas de flores brancas, pontilhadas de ouro, tal como as árvores que apresentam traços da mesma cor, sendo o ouro consagrado à realeza ou á divindade.
Uma chuva mística de rosas, a flor sagrada de Vénus, tomba sobre o mar, simbolizando o amor, ao mesmo tempo que os seus espinhos são como que um aviso de que este sentimento também pode ser doloroso.
O belíssimo rosto da deusa, enquadrado pela sua longa cabeleira, ostenta uma expressão distante, como se estivesse num mundo só seu, perdida nos seus pensamentos, o que era habitual nas pinturas de Botticelli. A sua postura é igual a uma estátua de mármore da Antiguidade Clássica, chamada “Venus de Médici”, pertencente à colecção dos Médici.
Uma versão estilizada da cabeça desta Vénus está reproduzida nas moedas italianas de dez cêntimos do euro.



Fontes: Europa do Renascimento, Col. Grandes Civilizações
Os Grandes Artistas, Difusão Cultural
www.infopedia.pt
pt.wikipedia. org

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