terça-feira, 6 de setembro de 2011

Boudicca – A Rainha Guerreira – I


Também conhecida como Budicca ou Boadiceia, pouco se conhece da sua vida. Nascida provavelmente por volta do ano 30 d.C., casou aos 18 anos com o rei Prasutag, rei nominal dos Icenos a quem deu duas filhas, Isolda e Siora.
Os Icenos - uma tribo celta que habitou o leste da Bretanha (a Britania dos Romanos), entre os sec. I a.C a I d.C, onde hoje se situa aproximadamente o actual condado de Norfolk – depois da invasão do imperador Cláudio em 43 d.C., revoltaram-se contra o domínio romano cerca de 4 anos depois. O Imperador, depois de sufocada a rebelião, ofereceu o trono a Prasutag, um chefe local, em troca da sua fidelidade. A partir daí, os Icenos tornaram-se apoiantes leais dos Romanos, beneficiando dos direitos e privilégios que o Império concedia aos reis-clientes.
Quando Prasutag morreu, deixou em testamento uma parte do seu reino à mulher e às duas filhas e a outra ao Imperador Nero.
Dado que o poder era apenas nominal e não havia um herdeiro varão, o procurador romano Catus Decianus apressou-se a tomar conta deste “legado”, agravando o tributo que os Icenos tinham de pagar, tratando os nobres com escravos e anexando a maior parte do território. Por sua vez, os credores romanos apressaram-se a cobrar as suas dívidas e muitos perderam as suas casas ou foram reduzidos à escravidão.
…O reino e as propriedades foram arrestados como presas de guerra. Os principais chefes dos Icenos foram privados das suas terras ancestrais como se todo o país tivesse sido doado aos romanos. Os parentes do Rei foram tratados como escravos…Tácito, nos seus Annais.
Quando a rainha protestou contra este abuso, recusando-se a pagar o tributo, o procurador deu instruções para que ela fosse publicamente açoitada. Como punição adicional, as filhas foram violadas pelos soldados.
Cheia de fúria pela afronta sofrida, Boudicca, que além de corajosa devia ser dona de uma personalidade bastante forte, conduziu os Icenos, a uma rebelião armada contra o domínio romano. Não eram só os Icenos que se queixavam dos romanos, outras tribos também se ressentiam com os abusos da administração romana, como os Trinovantes,a quem tinham retirado a sua capital, e assim, os povos do Leste da ilha responderam ao apelo da rainha icénica, juntando-se-lhe.
Com um exército de muitos milhares de homens, os rebeldes puseram-se em marcha contra os três centros populacionais do Leste que mais colonos romanos e “colaboradores” bretões possuíam: a colónia de Camulodunum (a antiga capital dos Trinovantes e onde os romanos tinham erigido um templo ao Imperador Cláudio), a cidade de Veralumium e o porto de Londinium (actualmente Colchester, St. Albans e Londres).
Aí chegados, devastaram tudo o que encontraram pela frente com extrema crueldade, saqueando, incendiando e chacinando não só os homens, mas também as mulheres e as crianças, principalmente as que viviam com os romanos. Nos seus relatos, o historiador Díon Cássio diz que os rebeldes “penduraram nuas as mais nobres e distintas mulheres, cortaram-lhes os seios e coseram-lhos à boca, para que as vítimas parecessem devorá-los; em seguida empalaram-nas em estacas aguçadas – tudo isto acompanhado de sacrifícios, festejos e comportamentos dissolutos”.
A IX Legião Hespana, comandada pelo futuro governador Quintus Petillius Cerialis, tentou vir em auxílio das populações afectadas, mas foi completamente desbaratada, tendo apenas sobrevivido o comandante e alguns cavaleiros. Após esta derrota Catus Decianus fugiu para a Gália.
Embora a rainha celta tivesse escolhido a ocasião certa para se revoltar, aproveitando o facto do governador da Britânia, Caius Suetónius Paulinus, estar ocupado numa campanha muito mais a ocidente com o grosso das suas tropas (o momento da revolta coincidiu com o ataque romano ao santuário druida da ilha de Mona, hoje Anglesey), este, alertado para o que estava a acontecer, regressou a toda a pressa para acorrer a Londinium e esmagar a rebelião.
Mas ao chegar, vendo que a cidade não estava fortificada e que as suas tropas não eram suficientes, deu ordem para evacuar Londinium e retirou-se. Os que não quiseram ou não puderam fugir, foram totalmente massacrados e Londinium arrasada. A totalidade dos mortos nas três localidades rondou os 70.000, pois os Celtas não faziam prisioneiros.
Corria o ano de 61 a.C…
A rainha esperava encontrar alimentos para as suas tropas nos armazéns de víveres romanos que encontrasse pelo caminho, mas Suetónio Paulino depois de os mandar queimar a todos para que o inimigo não se pudesse abastecer, e depois de reforçar as suas tropas com mais duas legiões vindas de Gales, o que lhe daria cerca de 10.000 efectivos, dispôs os seus homens em Watling Street, numa estreita garganta, com a retaguarda protegida por denso arvoredo e campo aberto à sua frente. Aí, em filas ordenadas, os Romanos aguardaram os Bretões…

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