domingo, 2 de outubro de 2011

A Queda de Jerusalém

Mapa de Jerusalém no tempo das Cruzadas.
A 2 de Outubro de 1187 (o vigésimo sétimo dia do Rajab do ano de 583), aniversário da elevação de Maomé aos céus levado pelo Arcanjo S. Gabriel, Saladino (Salah al-Din Yusuf ibn Ayub), à frente das suas tropas entrou em Jerusalém terminando com 88 anos de domínio cristão, e tornando-a de novo muçulmana.
Ao contrário de 1099, quando a cidade fora tomada pelos Cruzados num autêntico banho de sangue resultante da carnificina feita pelos cristãos durante dois dias, desta vez não houve nenhum massacre.
Desde 20 de Setembro que o Sultão cercara a cidade com o seu grande exército, mas apenas a 26 desse mês começou o ataque, inicialmente em frente à Torre de David, com uma chuva de flechas tão densa, que, segundo o relato de um cristão, não se podia erguer um dedo acima das muralhas sem se ficar ferido. Mudou depois a sua força principal para junto da Porta de Santo Estêvão, atacando com catapultas e mandando minar as muralhas.
Os defensores da cidade aptos para combate eram poucos, pois por “cada homem havia cinquenta mulheres e crianças” estando a chefia entregue a Balian de Belin, um cavaleiro respeitado até mesmo por Saladino, e ao Patriarca de Jerusalém, Heraclio, que poderiam contar com a experiência e tradicional coragem de alguns cavaleiros Templários e Hospitalários.
Balian de Belin tinha saído de Tiro, onde combatia, para ir a Jerusalém retirar da cidade a sua mulher e filhos, tendo para isso a permissão de Saladino, na condição de não se envolver na batalha pela cidade. Ao aceitar a chefia da defesa de Jerusalém mandou pedir a Saladino que o libertasse da palavra dada, ao que o Sultão acedeu.
Uma das suas primeiras medidas foi armar cavaleiros todos os rapazes com mais de 16 anos, para que pudessem combater, mas de pouco serviu, pois as máquinas de assédio do Sultão causaram tal estrago, que a 30 de Setembro, Balian foi encarregado de negociar uma rendição.
Ao princípio, Saladino recusou, o sangue cristão deveria lavar o sangue muçulmano derramado oitenta anos antes, mas o cavaleiro, mantendo a calma, ameaçou:
“Se temos de renunciar a toda a esperança, então bater-nos-emos desesperadamente, deitaremos fogo às casas e aos vossos santuários, destruiremos a Cúpula e derrubaremos o Rochedo, passaremos à espada os cerca de 5.000 prisioneiros muçulmanos que temos em nosso poder e mataremos as nossas mulheres e filhos de modo a não ficar ninguém vivo”.
Sabendo que Balian cumpriria a sua ameaça, o Sultão exigiu então a rendição incondicional da cidade senão “ tomaria Jerusalém pelas armas acontecesse o que acontecesse”.
As negociações continuaram e Saladino, para demonstrar a sua generosidade, aceitou que os cristãos pagassem pela sua liberdade, sendo dez denários por cada homem, cinco por mulher e um por cada criança. Os que não pudessem pagar seriam escravizados.
No entanto havia dentro da cidade cerca de vinte mil refugiados pobres que não teriam qualquer hipótese de pagar o seu resgate. Saladino pediu cem mil denários por eles, mas depois de informado que não havia esse dinheiro, aceitou trinta mil por 7.000 pobres. Fizeram-se então colectas para reunir o dinheiro, tendo os Templário e os Hospitalários contribuído com parte do dinheiro existente nos seus cofres.
Os cristãos ortodoxos preferiram ficar na cidade pagando uma taxa, e dos restantes pobres, o Sultão deixou sair mais alguns, especialmente as viúvas dos soldados mortos, as mulheres dos que estavam prisioneiros e os anciãos, mandando-lhes distribuir esmolas. O irmão de Saladino e alguns nobres muçulmanos também libertaram mais alguns milhares, restando por fim, cerca de oito mil refugiados, cujo destino foi a escravatura…
Nenhum edifício foi saqueado, ninguém foi molestado e a Igreja do Santo Sepulcro só esteve fechada durante três dias, depois foi aberta ao culto, podendo os cristãos visitá-la pagando uma pequena quantia. Os Lugares Santos ficaram sob a jurisdição da Igreja Ortodoxa.
A Mesquita de Al-Aksa e o Domo da Rocha foram limpos e purificados de qualquer sinal cristão que ostentassem e a cruz de metal dourado que encimava o Rochedo foi retirada e enviada de presente ao califa de Bagdad que a mandou cravar nos degraus da mesquita principal da cidade para ser pisada pelos fiéis quando lá fossem fazer as suas orações.
Quando os portões de Jerusalém se abriram para deixar passar os refugiados, estes foram divididos em três grupos, escoltados por soldados de Saladino, como protecção, até à fronteira com o condado cristão mais próximo.
O historiador árabe Abu Shâmah, professor da Universidade de Damasco em meados do sec. XIII, diz o seguinte: “Saladino à cabeça de um grupo de homens vindos do Paraíso combateu os enviados do Inferno com um tal sucesso que a Terra Santa foi purificada e, com a ajuda de Alá, liberta dos seus sofrimentos”.
A notícia da queda de Jerusalém provocou uma tal dor e indignação no Ocidente, que ao apelo dos Papas Gregório VIII (que entretanto faleceu), e do seu sucessor Clemente III, os três maiores reis da Cristandade, o Imperador Frederico I Barba Roxa, Filipe Augusto de França e Ricardo I Coração de Leão, de Inglaterra, tomaram a cruz e rumaram ao Oriente dando início à Terceira Cruzada, a mais famosa de todas, devido às personagens nela envolvidas.

Fontes: Grinberg, Carl – História Universal
Godes, Jesús Mestre – Os templários
Reston Jr, James – Os Guerreiros de Deus
www.wikipedia.org
Imagens:
www.artgallery
www2.fcsh.unl.pt




Pierre Tetar van Elvan

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