quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Alves Redol


Faz hoje 100 anos que em Vila Franca de Xira nascia António Alves Redol, um dos iniciadores do neo-realismo português, considerado como um dos seus expoentes máximos.
Filho de um pequeno comerciante, cedo começou a trabalhar. Em 1927, concluiu o Curso Comercial e no ano seguinte embarca no navio Niassa, com destino a Luanda, à procura de melhor sorte, mas só encontrando miséria e pobreza, regressa a Portugal em 1931
Ligado desde muito cedo aos meios de oposição ao salazarismo, a sua militância no Partido Comunista, assim como as conferências que proferiu e os artigos escritos em jornais como “O Diabo”, valeram-lhe a perseguição da polícia política, chegando a ser preso e torturado, o que condicionou a sua produção literária, obrigando-o a procurar outros meios de subsistência.
Empenhado na luta de resistência ao regime salazarista, compreendeu a literatura como forma de intervenção social e em 1939 publica o seu romance “Gaibéus”, obra que pode ser considerada fundadora do Neo-Realismo português, onde descreve a vida dura dos camponeses da Beira que iam fazer a ceifa do arroz ao Ribatejo, em meados do sec XX.
Alves Redol recebeu duras críticas pelo fato de sua obra abordar personagens, temas e situações que não eram explorados pela literatura e de utilizar uma linguagem simples que incorporava a fala das personagens de acordo com o ambiente em que viviam. Por isso, na epígrafe de Gaibéus, ele dá o seguinte aviso: “Este romance não pretende ficar na literatura como obra de arte. Quer ser, antes de tudo, um documentário humano fixado no Ribatejo. Depois disso, será o que os outros entenderem".
Para melhor escrever os seus romances, Alves Redol não hesitava em ir viver e trabalhar junto daqueles que pretendia retratar. Que o diga o repórter do jornal “A Tarde”, quando em 1945, encontrou o escritor descalço, com a sua inseparável boina basca e uma camisola grossa de lã junto de um barco rabelo a ajudar a descarregar 16 pipas de vinho tratado, para poder descrever a vida trágica dos barqueiros do Douro. Quando o interrogou sobre o assunto, Alves Redol respondeu:
- Fiel ao meu método, vim instalar-me na região onde vivem, sofrem e lutam as minhas personagens.
Este episódio vem descrito num artigo da revista “Vida Mundial Ilustrada” de 1945.
A sua primeira obra de teatro, “Maria Emília”, foi representada em 1946, e em 1950 recebe o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências, com a obra “Horizonte Cerrado”.
Em 1960, houve uma tentativa de representação de “A Forja”, mas os ensaios acabaram proibidos. A peça, apresentada em 1965 no Festival de Teatro de Manica e Sofala, em Moçambique, pelo Teatro de Ensaio do Clube Recreativo do Buzi, só em 1969 seria levada à cena no nosso país.
Autor de uma vasta obra, a sua literatura centra-se nos dramas humanos vividos na sociedade ribatejana e, com o Ciclo Port Wine (1949-53), também nos da região duriense, denunciando as injustiças sociais e fazendo um retrato fiel da sociedade em que viveu.
Faleceu em Lisboa a 29 de Novembro de 1969.
Para além dos textos das suas conferências e artigos para os jornais, escreveu romances, contos, peças de teatro e estudos de etnografia, de que se destacam os romances Gaibéus (1939), Marés (1941), Avieiros (1942), Fanga (1943), Anúncio (1945), Porto Manso (1946), o Ciclo Port Wine (constituído pelas obras Horizonte Cerrado – 1949, Os Homens e as Sombras – 1951 e Vindima de Sangue – 1953), Olhos de Água (1954), A Barca dos Sete Lemes (1958), Uma Fenda na Muralha (1959), O Cavalo Espantado (1960), Barranco de Cegos (1963, considerado a sua obra-prima), O Muro Branco (1966), e, com publicação póstuma, a peça de teatro Os Reinegros (1974). As suas peças dramáticas foram reunidas em Teatro I (1966), Teatro II (1967), e Teatro III (1972).
Contos
1940 – Nasci com Passaporte de Turista
1943 – Espólio
1946 – O Comboio das Seis (em Contos e Novelas)
1959 – Noite Esquecida
1962 – Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos
1963 – Histórias Afluentes

Literatura Infantil
1956 – Vida Mágica da Sementinha
1968 – A Flor Vai Ver o Mar
1968 – A Flor Vai Pescar Num Bote
1969 – Uma Flor Chamada Maria
1970 – Maria Flor Abre o Livro das Surpresas

Estudos
1938 – Glória – Uma Aldeia do Ribatejo
1949 – A França – Da Resistência à Renascença
1950 – Cancioneiro do Ribatejo
1952 – Ribatejo (Em Portugal Maravilhoso)
1964 – Romanceiro Geral do Povo Português

O episódio publicado na revista ”Vida Mundial Ilustrada” de 1945, a que me referi neste post, foi retirado do blog:
diasquevoam.blogspot.com

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