segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

LOA DO PRESEPE

Lição manuscrita do sec. XVIII

Pastor I

Pois todos somos chegados
À cidade de Belém,
Pelo anjo de Deus guiados,
Onde todo o nosso bem
Nasceu para remir pecados,
Vamos lhe oferecer
E dar graças todos juntos,
Pois este par de presuntos
Lhe trago para comer,
Atados com estes juncos.

Pastor II

Só este par de tassalhos
Achei lá no meu fumeiro;
E este gordo carneiro
Com doze cabeças de alhos
Vos manda meu companheiro.
Não vos pude mais trazer
Põe ser longe o caminho.
Mais este barril de vinho;
É para o velho beber,
Que está muito fraquinho.
Que vos há-de despertar
E fazer falar francês;
Porém, olhar, não tombar
Nem jogar Martim Cortês.

Pastor III

Trago-vos este cabaz
De ovos crus, e mais cozidos;
Os crus em calda mexidos
Darei a este rapaz
Para que esperte os sentidos.
São muito bons para a memória;
Mandá-lo-eis ensinar,
E assim pode escapar
Da ira da palmatória,
Quando lhe quiserem dar.

Pastor IV

A vós, Senhora Rainha,
Mãe deste lindo donzel,
Esta infusa de mel
Para lhe fazer a papinha
Vos trago no meu fardel.
È muito bom, de enxame novo;
Não dou outro, que faz frio,
Misturado com um ovo,
Não há quem tenha fastio.

Pastor V

Vós, santo velho bendito,
Parece que estais cansado
Aqui vos trago atado
Às costas um bom cabrito
Para comerdes assado;
E logo na mesma hora
O mandareis esfolar,
E depois de todo assar,
Comereis com o Senhor,
E preste-vos o jantar.

Pastora

Eu, esta pobre camisa
Vos ofereço, Senhora,
Suposto que venha agora,
Tríngua forte, mala guiza,
Obra de mão de pastora.
Mas, ainda que seja grossa
E feita de pano cru,
Pois o Menino está nú,
Vesti-a, por vida vossa,
Com o nome de Jesus!

(Despedida)

Senhor, ficai-vos embora,
Querido, amado de nós;
Sim, estamos satisfeitos
Em que, morrendo por nós,
Pois sendo vós nosso bem,
O que tudo confessamos,
Querendo-vos como firmes
Em que sempre vos amamos.

Cancioneiro Popular Português, de Teófilo de Braga.




A Adoração dos Pastores é um óleo sobre tela sobre o tema da Adoração dos Pastores, do ciclo da Natividade, de autoria de pintora Josefa de Óbidos. Pintado em 1669, mede 150 cm de altura x 184 cm de largura.
A pintura pertence ao Museu Nacional de Arte Antiga de Lisboa.
Josefa de Óbidos, nascida Josefa de Ayala Figueira (Sevilha, Fevereiro de 1630 — Óbidos, 22 de Julho de 1684)), foi uma pintora nascida em Espanha que viveu e produziu em Portugal. Como retratista da Família Real Portuguesa, destacam-se os seus retratos da rainha D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, esposa de D. Pedro II, e de sua filha, a princesa D. Isabel, que foi noiva de Vítor Amadeu, duque de Sabóia, a quem esse retrato foi enviado
.


Clicar para abrir.

Sem comentários:

Enviar um comentário