sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O Al-Andaluz – II

“O país do Andaluz é, como dissemos, de forma triangular. O mar rodeia-o pelos seus três lados: ao sul, o Mediterrâneo; a ocidente, o oceano Atlântico; ao norte, o mar dos Ingleses, que se contam entre os cristãos. O comprimento do Andaluz, desde a igreja do Corvo (Cabo de S. Vicente), que está situada no Atlântico, até ao monte chamado Templo de Vénus (Port Vendres), é de 1100 milhas. A sua largura é de 600 milhas. (Texto de Ibn Abd Al-Munin, finais do sec.XIII).

Os anos que se seguiram à conquista da Península Ibérica não foram fáceis para os muçulmanos. Dependente do Califa de Damasco, o Al-Andaluz tornou-se um emirato, onde, entre 711 e 756, foram nomeados mais de vinte emires para seu governo. Á anarquia política, seguiram-se as lutas internas pelo poder, entre berberes e árabes, a que se juntou uma terrível vaga de fome entre 751e 753.
Podemos definir cinco etapas na história deste território:
De 711 a 756 - Emirado dependente do Califa de Damasco.
Em 718 ocorreu a Batalha de Covadonga, na qual os muçulmanos saem derrotados pelo grupo de cristãos refugiados nas Astúrias e comandados por Pelágio. As forças islâmicas levam a cabo várias expedições contra a Gália, mas a sua expansão é detida em 732, na batalha de Poitiers, por Carlos Martel. Até 756 o Al-Andaluz teve vinte governadores dependentes de Damasco, sendo Sevilha, e mais tarde, Córdova, a sua capital.
De 756 a 929 - Emirato de Córdova.
A queda dos Omíadas em Damasco e a tomada do poder pelos Abássidas em 750 teriam repercussões políticas no Al-Andaluz. O único sobrevivente do massacre da família omíada, o príncipe Abd ar-Rahman, chega à península em 756 e instala-se em Córdova, onde toma o título de emir, declarando-se independente do califado dos Abássidas, mas mantendo a ligação religiosa. Dará início a uma dinastia que governa o Al-Andalus até 1031, mas que tem de enfrentar, além das inúmeras revoltas internas, o avanço dos reis cristãos.
De 929 a 1031 - Califado de Córdova.
Em 929, o emir Abd al-Rahman III declarou-se califa, título que lhe conferia independência não só política, mas também religiosa em relação aos Abássidas, cortando todos os laços com o califado do Oriente. Neste período, destaca-se a figura de Almançôr, o Vitorioso, o que não impede que durante os últimos vinte anos sejam nomeados 15 califas, mostrando bem a anarquia reinante, pelo menos desde o fim da hegemonia da família de Almançôr. No entanto, o califado corresponde ao período de maior esplendor da civilização islâmica na Península Ibérica.
De 1031 a 1090 - 1º Período dos reinos de Taifas.
Surgidos da desagregação do califado de Córdova, após o domínio de Almançor, o Vitorioso, e da sua família, os reinos de taifas eram unidades políticas que partilhavam uma afinidade de origem étnica. Independentes e rivais, muitos deles tiveram uma existência efémera. Os que duraram mais tempo foram os de Saragoça, Toledo, Granada, Sevilha e Badajoz.
Os reis cristãos aproveitaram esta fragmentação para avançarem sobre os territórios do sul. Foi durante este período que o território do Al-Andaluz atingiu o seu apogeu cultural, mas a batalha de Zalaca, em Outubro de 1086, contra Afonso VI, de Castela, e os seus aliados, embora se saldasse com uma derrota para os cristãos, selou o fim dos reinos de taifas e a subida ao poder dos almorávidas.
Com a conquista de Toledo por Afonso VI, e o crescente sucesso dos exércitos cristãos, além do valor sempre crescente do pagamento das parias em ouro por parte dos reinos de taifas, o rei de Sevilha, Al-Mu’tamid, sentindo-se ameaçado, chama em seu auxílio, os almorávidas, sediados no norte de África, assinando assim a sua própria perda.
A figura do rei-poeta Al-Mu’tamid, nascido em Beja e rei da taifa de Sevilha, destaca-se, não só pela excelência da sua poesia, como também pelo seu final de vida trágico.
De 1090 a 1146 - Império almorávida.
Os almorávidas, conhecidos pela sua intolerância religiosa, e comandados por Yussuf ibn Tâshfin, o fundador da cidade de Marraquexe, lançam-se à conquista do Al-Andaluz, apoderando-se dos reinos de taifas, a quem acusavam de infringir a lei islâmica com a cobrança ilegal de impostos e a vassalagem aos cristãos. Cerca de 1111, conquistam Santarém, avançam para Coimbra e chegam aos arredores do Porto. Milhares de cristãos são deportados para África, e o Al-Andaluz é integrado no império africano almorávida, sendo governado por Yussuf e os seus descendentes, a partir do norte de África.
Nesta altura, a coexistência das três religiões do Livro fica fortemente ameaçada. As relações muitas vezes pacíficas entre uns e outros, os períodos de paz e de intercâmbio económico e cultural existente, embora interrompidos por frequentes confrontos armados, deram lugar a uma guerra sem quartel, com os almorávidas proclamando a guerra santa, e do lado dos cristãos, a um espírito de cruzada, reforçado com a chegada de cavaleiros francos e dos monges de Cluny, apoiados por Roma.
Devido a revoltas internas, o império almorávida deixa de existir, dando origem a um breve período de reinos de taifas, sendo as mais importantes Mértola, Córdova, Valença e Múrcia.



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