domingo, 4 de março de 2012

Vamba - História e Lenda – III


Vamos então ver algumas das lendas que constam sobre este rei:

O Castelo do Rei Wamba

Sobranceiras às célebres Portas de Ródão erguem-se, ainda hoje, velhas ruínas de uma antiga fortaleza que o povo diz ter sido o Castelo do Rei Wamba.
Este rei visigodo fundou o Castelo de Ródão na margem norte do rio Tejo onde vivia com a mulher e os filhos. Na margem sul, vivia um rei mouro por quem a mulher de Wamba se apaixonou e como o amor era recíproco, aproveitando um dia a ausência do marido, deixou-se raptar pelo seu amado.
Quando soube disto, Wamba, que adorava a mulher, jurou vingar-se. Disfarçando-se de mendigo, dirigiu-se ao castelo inimigo para a trazer de volta, mas precavendo-se, ordenou aos seus homens que se escondessem e só atacassem quando o ouvissem tocar a sua trompa de guerra.
Chegado lá, pediu para o levarem à rainha porque trazia um recado para ela. Quando a mulher o reconheceu, manhosa, exclamou entre hesitante e aflita:
— Estamos perdidos! Esconde-te nesta alcova porque o Mouro que foi à caça, não demorará. Quando ele chegar, mata-o para eu poder regressar contigo…
Poucos minutos passados chegou o Mouro e a rainha fazendo-lhe um sinal de aviso, perguntou-lhe:
— Mataste muita caça?
— Sim, tive um bom dia!
— Pois também eu, respondeu ela, nem imaginas o que cacei… E, abrindo a porta da alcova, mostrou-lhe o falso mendigo!
Estupefacto, mas satisfeito por ter em suas mãos a vida do seu maior adversário, o Mouro, dirigiu-se-lhe:
— O dia de hoje foi para mim de grande felicidade. Matei muita caça e tenho-te aqui à mão. Quero por isso ser generoso. Ora diz:
— Que farias tu, Wamba, se te encontrasses no meu lugar?
Com astúcia e sangue-frio este respondeu:
— Agradeço a tua generosidade e, visto que me é permitido lavrar a minha própria sentença, quero dizer-te que se os nossos lugares se trocassem, obrigar-te-ia a subires ao cimo da torre do castelo e tocares esta trompa até rebentares!
— Pois, cumpra-se, disse o Mouro. Não terás de te queixar...
E Wamba foi levado ao cimo da torre onde tocou a sua trompa com todo o vigor! Naquele toque (mal o Mouro o podia adivinhar) estava a sua perdição…
Os cavaleiros visigodos assim que ouviram o toque, e conforme o combinado, avançaram a todo o galope, apanhando os mouros desprevenidos. Após uma luta breve, mas renhida, o rei Mouro era morto e a esposa infiel conduzida para a outra margem, chorando sem parar a morte do seu apaixonado. Irritado com aquelas lágrimas, Wamba perguntou aos seus filhos:
— Meus filhos, se tivésseis esposas que adorásseis e assim procedessem, que lhes faríeis?
Tomou a palavra o mais velho:
— Conquanto me seja de muito pesar emitir opinião em assunto tão melindroso, afirmo que, se o caso comigo se desse, mandá-la-ia atar à cauda de um cavalo, que à desfilada a desfizesse em mil pedaços.
O filho do meio, respondeu:
- Por mim, adoptaria processo mais rápido. Pisá-la-ia e rachá-la-ia de meio a meio.
Restava a opinião do mais novo.
— Não costumo desobedecer às ordens de meu pai, chefe exemplar da nossa família e o fiel depositário da honra de nós todos, O momento é difícil, mas ante a nossa dignidade própria e a do nosso povo, digo que, se o caso comigo se desse, amarraria a adúltera a uma galga (mó de moinho) e deitá-la-ia por essa ribanceira, até o seu corpo se perder nas águas do rio.
Esta foi, de facto, a ideia que melhor calou no ânimo de Wamba que imediatamente a mandou executar. Presa com segurança a enorme galga, a rainha foi despenhada pela ribanceira. E rolando, rolando, afundou-se no Tejo, para mais não ser vista...
O povo de Vila Velha diz, ainda hoje, que por onde o corpo passou o mato nunca mais cresceu!

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