terça-feira, 21 de agosto de 2012

A Viagem de Bartolomeu Dias – II



…Como lhes pareceram hostis, os navegadores continuaram para leste, entrando numa baía a que puseram o nome de Aguada de S. Brás, por ser dia 3 de Fevereiro, onde desembarcaram e se abasteceram de água fresca. É a actual Mossel Bay (Baía dos Mexilhões). Sem se aperceberem disso, tinham dobrado a África.

Seguindo viagem, foram cartografando todos os pontos de interesse, como o Cabo Talhado e o Golfo dos Pastores (actuais Cape Seal e St. Francis Bay), o Cabo da Roca (Cape Recife) e a Angra da Alagoa (Algoa Bay), tão extensa que nela acharam os ilhéus de Santa Cruz primeiro e os Chãos mais à frente (St. Croix e Bird Islands).

Aqui, Bartolomeu Dias teve de ceder à pressão de toda a tripulação que queria regressar à pátria. Há cerca de sete meses que navegavam, tendo já ultrapassado em 350 léguas a anterior expedição de Diogo Cão, sem que descobrissem a passagem para o Índico! È certo que tinham desfeito o mito do terrível Atlântico… Não havia águas ferventes, nem monstros com cabeça de cão, ou sem cabeça e com os olhos na barriga… Nem tinham caído no precipício que havia no fim desse mar, porque nada mais havia para além dele! Mas estavam fartos e cansados, com falta de vitaminas, além de que não se via nada onde pudessem fazer aguada… Embora contrariado, aceitou, pedindo apenas mais três dias de navegação, o que lhe foi concedido.

Continuando, a 12 de Março levantaram o 1º padrão num rochedo a que primeiro chamaram de Ilhéu Falso (False Island), mas a que depois chamaram de Ilhéu da Cruz ou Penedo das Fontes. O padrão S. Gregório (assim chamado por ser o nome do santo desse dia) tinha o escudo de armas de Portugal, de um lado, e dos outros, três inscrições em português, latim e arábico:

“Era da criação do mundo de 6686 e de Cristo de 1487, o excelente esclarecido Rei Dom João Segundo de Portugal mandou descobrir esta terra e poer este padrão por Bartholomeu Diaz, escudeiro de sua casa”.

Chegaram, por fim, à foz de um rio, a que deram o nome de Rio do Infante (actual Great Fish River, por ser João Infante o primeiro a vê-lo), e, tendo acabado o prazo concedido ao capitão sem nada avistarem de notável, começaram a viagem de regresso, mas pela linha da costa para oeste, fazendo primeiro uma paragem no Ilhéu da Cruz de onde, segundo João de Barros, Bartolomeu Dias” se afastou com tanta dor e sofrimento como se ali deixara um filho desterrado”.

E foi na torna-viagem que o milagre se deu!

Navegando sempre com o continente à vista, a 16 de Maio contornaram um cabo a que deram o nome de Ponta de S. Brandão, depois Cabo das Agulhas, porque as agulhas de marear não tinham qualquer variação magnética e onde começaram a apanhar ventos fortes e ondas altíssimas. Sem o saberem, tinham alcançado o verdadeiro extremo sul do continente africano onde os dois oceanos se encontram…desfazendo a ideia ptolemaica de que o Índico era um mar interior cercado de terra por todos os lados!

A 6 de Junho avistaram um profundo Golfo dentro das Serras, formando uma enseada cuja ponta ocidental era um enorme promontório que iniciava a curva da costa flectindo para norte…

"Partidos dali, houveram vista daquele grande e notável cabo, ao qual por causa dos perigos e tormentas em o dobrar lhe puseram o nome de Tormentoso, mas el-rei D. João II lhe chamou cabo da Boa Esperança, por aquilo que prometia para o descobrimento da Índia tão desejada."

Estava enfim vencido o terrível Adamastor, o poderoso gigante que guardava as terras do fim do mundo! Tinha sido descoberta a passagem de sueste que abria o Caminho Marítimo para a Índia, a Agensiba de Ptolomeu!

Nessa enseada, a actual False Bay, levantaram o 2º padrão, o de S. Filipe. A partir dali, ora com ventos favoráveis ou enfrentando mares revoltos, chegaram a 24 de Julho à actual Luderitz Bay, a que chamou Golfo de S. Gregório, onde possivelmente deixou outro padrão.

Ao fazerem escala na Baía dos Tigres, onde nove meses antes tinham deixado a naveta dos mantimentos, quedaram estarrecidos…Dos nove homens que tinham ficado ali, apenas três sobreviviam, autênticos farrapos humanos! E para piorar a situação, um deles, com a alegria de os voltar a ver, faleceu…


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