sábado, 8 de junho de 2013

DIA MUNDIAL DA SAUDADE - I







O que é a Saudade?

Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue. Adriana Falcão.
"O tempo não pára, só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo." Mário Quintana.
"Saudade é amar um passado que ainda não passou. É recusar o presente que nos magoa. É não ver o futuro que nos convida..." Pablo Neruda
"A saudade é a memória do coração." Coelho Neto
"A saudade diminuiu ou fomos nós que envelhecemos?" Millôr Fernandes
Definição de Saudade
Saudade é uma das palavras mais presentes na poesia de amor da língua portuguesa e também na música popular. "Saudade", só conhecida em galego e português, descreve a mistura dos sentimentos de perda, falta, distância e amor. A palavra vem do latim "solitas, solitatis" (solidão), na forma arcaica de "soedade, soidade e suidade" e sob influência de "saúde" e "saudar".
Em Portugal, o Fado, oriundo do latim "fatum", destino, está directamente associado com este sentimento. Do mesmo modo, a sodade cabo-verdiana está intimamente ligada ao género musical da morna. No Brasil, esse sentimento está muito retratado no samba de fossa e na bossa nova.
Diz a lenda que o termo foi cunhado na época dos Descobrimentos portugueses e do Brasil colônia, quando esteve muito presente para definir a solidão dos portugueses numa terra estranha, longe de entes queridos. Define, pois, a melancolia causada pela lembrança; a mágoa que se sente pela ausência ou desaparecimento de pessoas, coisas, estados ou ações. Provém do latim "solitáte", solidão.
Uma visão mais especifista aponta que o termo saudade advém de solitude e saudar, onde quem sofre é o que fica a esperar o retorno de quem partiu, e não o indivíduo que se foi, o qual sentiria nostalgia. A génese do vocábulo está directamente ligada à tradição marítima lusitana.
Na formação do termo "saudade", o vocábulo sofreu uma interfluência entre o estado de estar só, sentir-se solitário - oriundo de "solitarius" que por sua vez advem de "solitas, solitatis", possuidora da forma declinada "solitate" e suas variações luso-arcaicas como suidade - e a associação com o acto de receber e acalentar este sentimento traduzido com os termos oriundos de "salute e salutare", que na transição do latim para o português sofrem uma síncope e perde a letra interna l, simplesmente abandonada, enquanto o t não desaparece, mas passa a ser sonorizado como um d.
Recentemente, uma pesquisa entre tradutores britânicos apontou a palavra "saudade" como a sétima palavra de mais difícil tradução.
A Saudade, através dos tempos – poetas e pintores

Amor cortês

SAUDADE
Breve será vencedora
A morte com tal paixão,
Se não estancas coração
Esta dor que me devora.

Ausente minha senhora
Mil cuidados me dão guerra,
Não logro paz cá na terra.

E o sono, que invoco em vão,
Com a sua doce mão
Nunca as pálpebras me cerra.

AL-MUT’AMID, (1040-1095) 


Que soydade de mha senhor ey

Que soydade de mha senhor ey,
Quando me nembra d’ela qual a vi
E que me nembra que bem a oy
Falar, e, por quanto bem déla sey,
Rogu’eu a Deus, que end’á o poder,
Que mh-a leixe, si lhi prouguer, veer

Cedo, ca, pero mi nunca fez bem,
Se a non vir, non me posso guardar
Dénsandecer ou morrer com pesar,
E, por que ela tod’ en poder tem,
Rogu’ eu a Deus, que end’á poder
Que mh-a leixe, si lhi prouguer, veer

Cedo, ca tal a fez Nostro Senhor;
De quantas outras € no mundo son
Non lhi fez par a la minha fé, non,
E, poy-la fez das melhores, melhor,
Rogu’eu a Deus, que end’á o poder,
Que mh-a leixe, si lhi prouguer, ver
Cedo, ca tal quis (o) Deus fazer
Que, se a non vyr, non posso viver.

D. Dinis, (1261-1325)
 (C.V. 119, C.B.N. 526)

Que me quereis, perpétuas saudades?

Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança inda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
E se torna, não tornam as idades.

Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que passais,
Nem todos pera um gosto são iguais,
Nem sempre são conformes as vontades.

Aquilo a que já quis é tão mudado,
Que quase é outra cousa, porque os dias
Têm o primeiro gosto já danado.

Esperanças de novas alegrias
Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
Que do contentamento são espias.


Luís de Camões, (1524-1580)



 
Edouard Hamman  

  Estes Sítios!

Olha bem estes sítios queridos,
Vê-os bem neste olhar derradeiro...
Ai! o negro dos montes erguidos,
Ai! o verde do triste pinheiro!
Que saudade que deles teremos...
Que saudade! ai, amor, que saudade!
Pois não sentes, neste ar que bebemos,
No acre cheiro da agreste ramagem,
Estar-se alma a tragar liberdade
E a crescer de inocência e vigor!
Oh! aqui, aqui só se engrinalda
Da pureza da rosa selvagem,
E contente aqui só vive Amor.
O ar queimado das salas lhe escalda
De suas asas o níveo candor,
E na frente arrugada lhe cresta
A inocência infantil do pudor.
E oh! deixar tais delícias como esta!
E trocar este céu de ventura
Pelo inferno da escrava cidade!
Vender alma e razão à impostura,
Ir saudar a mentira em sua corte,
Ajoelhar em seu trono à vaidade,
Ter de rir nas angústias da morte,
Chamar vida ao terror da verdade...
Ai! não, não... nossa vida acabou,
Nossa vida aqui toda ficou
Diz-lhe adeus neste olhar derradeiro,
Dize à sombra dos montes erguidos,
Dize-o ao verde do triste pinheiro,
Dize-o a todos os sítios queridos
Desta rude, feroz soledade,
Paraíso onde livres vivemos,
Oh! saudades que dele teremos,
Que saudade! ai, amor, que saudade!

Almeida Garrett, (1799-1854) in 'Folhas Caídas'
 


MEUS OITO ANOS

Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d’amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! Dias da minha infância!
Oh! Meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
................................
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu, (1839-1860)


Almeida Júnior

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