sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Samurais, os Senhores da Guerra

Os orgulhosos não duram para sempre, mas são como o sonho de uma noite de Primavera. Mesmo os poderosos perecerão, tal como o pó diante do vento”.
Estas linhas de abertura do épico Heike Monogatari (Contos do Heike), uma história sobre as Guerras Genpei (1180-1185), podem considerar-se o epitáfio perfeito para os samurais, os orgulhosos senhores da guerra japoneses que durante perto de 700 anos prevaleceram na história do Japão, chegando mesmo a assenhorearem-se do poder e relegando o imperador para uma simples figura decorativa.
Começando primeiro por serem cobradores de impostos e guardas da corte, depressa se tornaram membros das milícias privadas das autoridades senhoriais das províncias. Os “bushi”, formando uma espécie de cavalaria hereditária e uma corporação própria, eram também chamados, como grupo, “samurais” ou “gente de armas”. Este grupo dos “bushi” ou “samurais”, a palavra em si traduz-se por (aquele que serve), desenvolveu, de forma muito semelhante à cavalaria do Ocidente, a partir do dever da vassalagem inicial, uma nova forma de vida e uma consciência corporativa própria.
O “Bushi-do” - o caminho do guerreiro – baseava-se na fidelidade absoluta em relação ao senhor feudal, exigindo, inclusivé, o sacrifício da própria vida. Os samurais dotaram-se de um severo código de honra e de costumes, de regras de duelo, da nobre forma de combater, do uso das armas e da atitude moral.
O núcleo desse código era a fidelidade incondicional ao senhor, uma vez este escolhido, e assim os senhores dos cantões baseavam o seu poder militar nos “bushi” ou “samurais”.
De início, fazendo do arco e flecha a sua arma favorita de combate, depressa o trocaram pelo sabre, pois a ferocidade do combate corpo a corpo tornava o arco pouco operacional. No sec. IX surgiu um tipo de sabre longo, elaborado em aço e de lamina ligeiramente recurvada com folha única, de grande capacidade cortante, o katana , que poderia chegar ao metro e meio. Durante o período de Muromachi, inventaram o wakizashi, sabre curto, para ser usado em conjunto com o outro.
O sabre era para o samurai como que um prolongamento natural do seu corpo e uma parte do próprio “espírito” do guerreiro.
Nos tempos mais recuados, os cavaleiros ainda enfrentavam os rivais com espírito cavaleiresco, desafiando os opositores para batalhas com arco e flechas ritualizados. Galopando até à linha da frente, o cavaleiro apregoava a sua linhagem familiar e o rol das suas proezas:
Salve, eu sou Kajiwara Heizo Kagetoki, descendente em quinta geração de Gongoro Kagemasa de Kamakura, famoso guerreiro da Terra do Leste que era capaz de se bater contra mil homens. Aos 16 anos foi atingido no olho esquerdo por uma seta, que trespassou o elmo. Arrancou-a e com ela abateu o atirador que a lançou”. Terminada a arenga os arqueiros a cavalo disparavam as suas flechas. Em seguida, o samurai armado de espadas e lança investia.
Também buscavam a glória caçando cabeças. Ao terminar a batalha, o guerreiro apresentava as cabeças como troféu ao general que o recompensava promovendo-o a um posto superior, dando-lhe ouro ou prata, ou terras pertencentes ao clã derrotado. Os generais exibiam as cabeças dos rivais derrotados nas praças públicas.
Lá como cá, esse espírito foi-se perdendo conforme os exércitos de samurais aumentavam de tamanho e muitos deles passaram a servir como soldados de infantaria treinados para combates corpo a corpo.
Em Quioto, na capital imperial, o imperador, embora politicamente impotente, continuava a ser o centro sagrado do Japão. Dominado pelos chanceleres da família Fujiwara, dos quais fazia parte, uma vez que esta família casava as suas filhas com o imperador reinante, governando assim o país através do seu próprio neto, entregava-se, juntamente com a nobreza cortesã, a uma vida de refinada ociosidade, afastando-se cada vez mais da verdadeira vida do seu povo.
O poder militar passou para as mãos de vassalos poderosos, que são geralmente das famílias dos Tairas ou Heike e dos Minamoto ou Genji, que possuíam quase nove décimos do solo nacional, dominando os Taira a Ocidente, e os Minamoto a Oriente, graças ao seu numeroso séquito de cavaleiros.
Quando o esforço da corte imperial de Quioto para criar um exército recrutado entre os pequenos proprietários de terra e os camponeses fracassou, esses poderosos senhores feudais atacam a débil corte e a posição dos Fujiwara, por volta de 1156, mais ou menos na altura em que na Europa se organizam as primeiras Cruzadas.
Com a queda do regime, instala-se a guerra civil provocada pelas lutas entre os dois maiores clãs para se assenhorearem do poder, as chamadas “Guerras Genpei”, assim chamadas segundo as sílabas iniciais das famílias em luta e que durou de 1180 a 1185.

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