quinta-feira, 26 de março de 2015

O Mês de Março

Março, iluminura do livro “Très riches heures du duc de Berry.




O mês de Março é o terceiro mês do ano no calendário gregoriano e um dos sete meses com 31 dias.
Março inicia-se (astrologicamente, não sideral) com o sol no signo de Peixes e termina no signo de Áries. Astronomicamente falando, o sol inicia na constelação de Aquarius e termina na constelação de Pisces.
Março no Hemisfério norte é o sazonal equivalente a setembro no Hemisfério sul. Por volta de 21 de março, o Sol cruza o equador celestial rumo ao norte; é o equinócio de março, começo da primavera no Hemisfério Norte e do outono no Hemisfério Sul.
Na Roma Antiga, março (Martius), sendo o primeiro mês da primavera, iniciava não só o Ano Novo como também a época das campanhas militares, sendo por isso dedicado a Marte, o deus da guerra.
O ano iniciava-se a 1 de março na Rússia até o final do século XV. O Reino da Grã-Bretanha e as suas colónias continuaram a utilizar o dia 25 de março para iniciar o ano até 1752, ano em que finalmente adotaram o calendário gregoriano. Muitas outras culturas e religiões ainda celebram o começo do Ano-Novo em março.
Em finlandês, o mês é chamado de maaliskuu, que tem origem em maallinen kuu significando o mês terrestre. Isto é porque em maaliskuu a terra começa a aparecer sob a neve derretida.
Historicamente os nomes para março incluem o termo saxão Lenctmonat, dado ao equinócio. Os saxões também chamavam março de Rhed-monat ou Hreth-monath (devido a seu deus Rhedam/Hreth) e os anglos chamavam-no de Hyld-monath.
No calendário judaico, o fim de fevereiro e o começo de março é chamado de adar, o último mês, enquanto que o fim de março e começo de abril é chamado de nisã, e é considerado o primeiro mês.


Provérbios de Março
Água de Março é pior que nódoa em pano.
A dezanove de Março, e o cuco sem vir, ou ele é morto ou está para vir.
Antes a estopa de Abril que o linho de Março.
Março, marçagão, manhãs de Inverno e tardes de Verão.
Março marçagão,manhã de Inverno, tarde de rainha, de noite corta que nem foicinha.
Março duvidoso, S. João farinhoso.
Março, àgua nem tanta que molhe o rabo ao gato; em Abril, quantas puderem vir.
Março liga a noite com o dia, o Manel com a Maria, o pão com o mato e a erva com o sargaço.
Março marceja (chuva miudinha), pela manhã chove e à tarde calmeja.
Março seco queima sete reinos.
Março queima a dama no paço.
Março pardo e venturoso traz o ano formoso.
Entre Março e Abril o cuco há-de vir.
Em Março cada dia chove um pedaço.
Em Março, de manhã pinga a telha e à tarde sai a abelha.
Em Março queima a velha o maço.
Em Março, tanto durmo como faço.
Em março o sol rega e a chuva queima.
Em Março cresce cada dia um pedaço.
Em Março, onde quero eu passo.
Inverno de Março e seca de Abril, deixam o lavrador a pedir.
Janeiro geoso, Fevereiro nevado, Março frio e ventoso, Abril chuvoso e Maio pardo, fazem o ano abundoso.
Nasce a erva em Março, nem que lhe dêem com um maço.
No tempo do cuco, tanto está molhado como enxuto.
O enxame de Março mete-o regaço.
Páscoa em Março, ou fome ou mortaço.
Poda-me em Janeiro, empa-me em Março e verás o que te faço.
Quando em Março arrulha a perdiz, ano feliz.
Quando Outubro for erveiro, guarda para Março o palheiro.
Quando vem Março ventoso, Abril sai chuvoso.
Quem em Março come sardinha, em Agosto lhe pica a espinha.
Quem em Março não merenda, aos mortos se encomenda.
Quem poda em Março, vindima no regaço.
Temporã é a castanha que por Março arrebenta.
Uma chuva de Março e duas de Abril valem por mil.
Vento de Março e chuva de Abril, fazem Maio a florir.
Vinho que nasce em Maio, é para o gaio; se nasce em Abril, vai ao funil; se nasce em Março, fica no regaço.



Fontes e imagem: www.wikipedia.org














sábado, 21 de março de 2015

Ovídio e “A Arte de Amar”

Particularmente prezada durante a Antiguidade, lida e relida – sobretudo às escondidas – ao longo de quase toda a Idade Média, revalorizada a partir do Renascimento, a Arte de Amar ( Ars Amatoria, em Latim), é uma trilogia escrita em verso pelo poeta romano Ovídio, que, profundo conhecedor do coração humano, não hesitou em ensinar através deles, aos homens e mulheres do seu tempo (e não só), a difícil arte de seduzir e fazer perdurar o amor, antecedendo em cerca de vinte séculos
a “revolução sexual” dos nossos dias...
Os dois primeiros volumes da trilogia, escritos entre 1 a.C., e 1 d.C., são dirigidos ao elemento masculino e falam “sobre como conquistar os corações das mulheres” e “como manter a amada”, respectivamente. O terceiro volume, que é dirigido especialmente às mulheres, contém os ensinamentos de “como atrair e seduzir os homens”, foi escrito posteriormente.
Públio Ovídio Naso, mais conhecido por Ovídio, nasceu a 20 de Março do ano 43 a.C., em Sulmona, num vale nos Apeninos, a leste de Roma, numa importante família da classe nobre rural, mas foi educado em Roma com os melhores mestres de retórica, pois seu pai destinava-o à carreira política. O jovem, porém, decide trocar a política pela poesia, e aos dezoito anos empreendeu uma viagem à Grécia, um complemento indispensável à educação dos jovens romanos.
Poeta de verso fácil, Ovídio antes desta trilogia, escreve um longo poema de forma epistolar, intitulado Heróides, constituído por cartas fictícias de grandes heroínas amorosas, históricas ou lendárias, para os seus amantes ausentes, uma tragédia intitulada Medeia, cujo rasto se perdeu e uma série de poemas eróticos em cinco livros, com o nome de Amores, dirigidos a uma amante, Corina.
O próximo poema de Ovídio, Medicamina Faciei, um trabalho fragmentado sobre tratamentos de beleza feminina precedeu Ars Amatoria, ou “A Arte de Amar” que foi escrita já o autor passava dos quarenta anos, mais ou menos na mesma altura em que na Galileia, vinha ao mundo um Menino chamado Jesus. Nesse mesmo ano escreveu ainda outro poema Remedia Amoris. Esta coleção de poesia elegíaca e erótica deu a Ovídio um lugar entre os principais elegistas romanos, Cornélio Galo, Tíbulo e Propércio, do qual ele próprio se via como o quarto membro. Casou-se por três vezes e divorciou-se de duas das suas mulheres ainda antes dos seus quarenta anos, tendo uma filha que lhe deu dois netos.
O ideal de beleza, masculina ou feminina, os mecanismos de sedução, os melhores métodos de obtenção do prazer e, mesmo, a arte da traição e do engano, são alguns dos temas que preenchem este manual do amor, e que provavelmente levaram a que o autor fosse banido de Roma pelo Imperador Augusto, muito empenhado numa reforma dos bons costumes. A celebração do amor extraconjugal pode ter sido tomada como uma afronta intolerável a um regime que promovia os 'valores da família' e que já tinha levado ao exílio tanto da filha como da neta do próprio Imperador.
O certo é que no ano 8 d.C., o poeta foi exilado para Tomis, hoje Constança na actual Roménia, sózinho e sem poder levar a sua mulher, ao mesmo tempo que a sua obra Ars Amatoria era retirada de todas as bibliotecas. Antes de morrer, preparava aquela que seria sua última obra, Haliêutica, sobre a arte da pesca; Caio Plínio Segundo acreditava que este era mais um ato de diversão de Ovídio, que não tinha qualquer interesse pelo tema tratado. Faleceu no ano 17 d.C.
A Arte de Amar....

De verdades, não mais, aqui se trata.
Ó mãe do Amor, secunda o meu intento!
E vós, longe daqui, ó finas faixas
que sempre do pudor sois ornamento!
E tú, também, ó longo véu que tapas
das matronas os pés, vai-te no vento!
Eu só a quem é livre me dirijo:
apenas me dirijo a quem não tema
os prazeres mais a furto concedidos...
não tem pois mal nenhum este poema...

.

Se vais para o amor como quem vai
pela primeira vez ao fogo das pelejas,
trata de procurar, antes de mais,
aquela a quem desejas.
Trata depois, então,
de conquistar o coração
da jovem que elegeste entre as demais mulheres.
E trata finalmente, em último lugar,
de esse amor prolongar
o mais que tu puderes.
Aqui tens o plano nas suas grandes linhas.
Este vai ser de nosso carro o curso;
esta, a meta – que há-de ser atingida
no termo do percurso.

.

O pudor impede a mulher
de provocar certas carícias
mas se é o homem a começar
ela recebe-as com delícia.
Ah! tens excessiva confiança
nas tuas qualidades físicas
se esperas que seja a mulher
a tomar a iniciativa.
É ao homem que compete começar
e dizer palavras suplicantes
Á mulher cabe acolher suavemente
essas brandas palavras amorosas.

.


Fontes:
Ovídio – A Arte de Amar – Edição da Galeria Panorama,1970


sexta-feira, 20 de março de 2015

O Mito das Estações





Um dos mais belos e antigos mitos que se conhecem sobre as estações, teve origem na Babilónia e diz respeito à bonita história de amor entre a deusa Ishtar e o jovem Tammuz.
Entre as divindades babilónicas de menos categoria, contava-se um jovem deus, belíssimo e bondoso, que vagueava pelos campos a tocar flauta, protegendo os pastores e os seus rebanhos, tornando as colheitas fartas e velando pela saúde e pelo vigor de todos os seres vivos, homens, animais e plantas.
Graças a este deus jovial, a Natureza mostrava-se permanentemente risonha; as plantas floriam, as famílias aumentavam e, nos apriscos, o gado multiplicava-se.
Não admira, pois, que um belo dia, Ishtar, a deusa da beleza e do amor, começasse a suspirar por tão bonito moço, acabando por casar com ele.
A escolha foi acertada, pois Ishtar também protegia o desabrochar da vida e a ela se encomendavam as mães para que os filhos nascessem formosos e robustos e as fêmeas do gado tivessem crias saudáveis.
Mas...uma vez que Tammuz passeava por uma floresta próximo da cidade sagrada de Eridu, um feroz javali saiu, inesperadamente, de uns silvados e atacou o jovem deus, que acabou por morrer dos graves ferimentos infligidos pelas presas do animal.
Por toda a terra se espalhou uma enorme tristeza, como se um véu cinzento envolvesse todas as coisas e escondesse a claridade do sol. Lamentavam-se as plantas, carpiam-se as searas, que perderam as espigas; os rios deslizavam tristonhos e as suas águas foram secando.
Mas a mais confrangedora de todas as tristezas foi a de Ishtar, que assim se via privada do amor da sua vida. Inconformada com a sua perda, resolveu descer a Aralu, o mundo subterrâneo para onde Tammuz fora levado, um lugar sombrio onde os mortos eram alimentados com pó, usavam penas, o tenebroso reino dos mortos, dominado pela sua irmã e rival, a deusa Ereshkigal.
Paredes maciças protegiam este submundo de múltiplas camadas, umas dentro das outras, com portões fechados a cadeado e monstros a servir de guarda que lhe recusaram a entrada apesar das suas súplicas. Irritada, a deusa gritou:
-Guardião, abre ou despedaçarei estas portas, libertarei os mortos e levá-los-ei comigo para a Terra, a fim de devorarem os vivos!!!
Assustado, o guarda correu a pedir instruções à rainha do Inferno que autorizou a entrada da deusa, com a condição de esta se despojar de cada uma das suas vestes e adornos, à medida que transpusesse cada uma das sete portas que davam acesso ao interior do submundo.
Ishtar concordou com esta condição e, na primeira porta depôs a coroa; na segunda, os brincos; na terceira, o colar; na quarta, as pulseiras, e assim sucessivamente até que ao chegar junto de Ereshkigal estava nua e indefesa, pois como deusa da formosura e do amor, os adornos eram parte integrante da sua personalidade e do seu poder. Apenas conseguiu ter um vislumbre do seu amado marido antes que a rainha a mandasse aprisionar.
Depois disto, como poderia a vida continuar na Terra, se as duas divindades que a sustentavam estavam uma morta e a outra presa? O solo não era semeado nenhum útero podia conceber, as plantas murchavam, enfim, toda a Natureza caminhava para a extinção.
Preocupados, os deuses recorreram sem perda de tempo para Ea, o qual, por meio de um dos seus enérgicos encantamentos obrigou a rainha dos Infernos a libertar Ishtar. Reintegrada no seu poder, a deusa obrigou a sua rival a aspergir Tammuz com a água da vida, para que este a acompanhasse e a abrir-lhe as portas do Inferno para que os dois pudessem de novo regressar à Terra.
À medida que saíam, a Natureza ia-se regenerando e quando, por fim, Ishtar já na posse de todas as suas vestes e jóias, chegou com o esposo à superfície e deparou com a luz brilhante do Sol, entoou este hino de orgulhosa alegria:

Rejubilo com o meu esplendor e regresso à Terra a transbordar de felicidade excelsa e divina! Sou Ishtar, a deusa da noite estrelada; sou Ishtar, a deusa da manhã e da alvorada; sou a deusa sempre triunfante no Céu e na Terra”

Mas não era impunemente que se descia ao reino dos mortos; Ishtar reconheceu-o tempos depois, quando Tammuz, como se lhe tivessem inoculado o vírus de uma atracção maléfica pelas trevas em que caíra, começou a descer, todos os anos, aos abismos infernais, passando aí metade do ano no torpor do sono do Inverno, despertando na estação primaveril para cumprir novo ciclo renovador!


segunda-feira, 16 de março de 2015

Os Etruscos e o Mundo do Além -1

 Os historiadores não estão de acordo quanto à origem dos Etruscos. Admitem, no entanto, que a civilização etrusca surgiu na Itália Central no sec. VIII a. C., seguindo-se, sem interrupção sensível, à civilização vilanovense, sólidamente instalada no Lácio desde o princípio do 1º milénio a. C.
Segundo Heródoto, os Etruscos viveram inicialmente na Lídia, na Ásia Menor. Uma prolongada fome fê-los emigrar. Será isto verdade? Seja como fôr, os vestígios etruscos provam a existência de contactos muito estreitos com o Oriente. Entre outros, foram encontrados, um vaso de pedra com o nome de um faraó egípcio que reinou cerca de 700 a.C., e uma reprodução em bronze de um fígado que deveria ter sido utilizada para o ensino da predição do futuro a partir das entranhas. A interpretação dos presságios através do exame das entranhas dos animais sacrificados e do voo das aves fazia parte da arte divinatória dos Orientais e passou para os Etruscos, que, por seu turno, a ensinaram aos Romanos.
A arquitectura apresenta semelhanças ainda mais notáveis. Contrariamente aos templos gregos – e ao romanos posteriores -, os templos etruscos são construídos sobre uma plataforma elevada, à semelhança das “montanhas artificiais” dos Sumérios, os ziggurats.
Tal como os outros povos do Próximo Oriente, os Etruscos representavam toda a espécie de animais fabulosos. Nas paredes dos deus túmulos encontramos uma fauna extremamente variada: esfinges, grifos e quimeras. Foi, sem dúvida, do Oriente, por intermédio da Grécia, que receberam os seus modelos. Em geral, a influência grega depressa se torna mais forte do que a oriental.
No início do sec. V a. C., os Etruscos estavam no auge do seu poder. Em seguida, a pressão dos povos celtas, vindos do Norte, e dos Gregos, vindos do Sul, tornaram-lhes a vida difícil. Encontraram um aliado em Cartago, mas a sorte não estava com eles. Em 480 a.C., o ano em que os Gregos metropolitanos venceram os Persas, os gregos ocidentais infligiram uma derrota esmagadora aos Cartagineses e seis anos mais tarde foi a vez dos Etruscos, vencidos perto de Cumas por Hiéron, tirano de Siracusa. Esta derrota marca uma viragem na história dos Etruscos, a sua decadência foi ininterrupta; o seu território foi sendo, pouco a pouco, conquistado pelos Celtas, pelos Samnitas e pelos Romanos.
Os mais belos tesouros artísticos deixados pelos Etruscos são os seus esplêndidos túmulos, com as paredes ornamentadas de frescos; do ponto de vista ornamental, só as últimas moradas dos Egípcios de elevada categoria podem rivalizar com os túmulos etruscos. Tanto para uns, como para outros, a morte e as cerimónias fúnebres, tinham, no plano religioso, grande importância. A morte devia inspirar aos Etruscos um terror sem limites. Nenhum povo europeu imaginou criaturas mais pavorosas do que os demónios etruscos, com garras e bicos de ave de rapina: possuíam cabelos de um vermelho vivo e reviravam os olhos selvagens numa face lívida. Os Etruscos ornamentava os seus túmulos com cenas escolhidas entre as mais divertidas da vida terrena, como se quisessem arranjar compensação para a morte. Aí se vêem imensos festins, jogos e bailados onde pequenas dançarinas marcam o ritmo com a ponta dos dedos. As pinturas tumulares exprimem as alegrias da vida e dos sentidos e atestam uma tão refinada elegância que lembram os frescos do palácio de Cnossos. Os escritores gregos e romanos cantaram a beleza das mulheres etruscas e as pinturas dos túmulos confirmam o que por eles foi dito. Já as esculturas funerárias dos homens mostram-nos homens gordos e feios, por isso os Romanos aos descreverem-nos chamavam-nos de “gordos e barrigudos”.
 


domingo, 8 de março de 2015

Dia Internacional da Mulher

A Mulher Inspiradora

Mulher, não és só obra de Deus;
os homens vão-te criando eternamente
com a formosura dos seus corações,
e os seus anseios
vestiram de glória a tua juventude.

Por ti o poeta vai tecendo
a sua imaginária tela de oiro:
o pintor dá às tuas formas,
dia após dia,
nova imortalidade.

Para te adornar, para te vestir,
para tornar-te mais preciosa,
o mar traz as suas pérolas,
a terra o seu oiro,
sua flor os jardins do Verão.

Mulher, és meio mulher,
meio sonho.

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"