quarta-feira, 22 de abril de 2015

A TERRA


O Cântico da Terra

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.
Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranqüila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranquilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.


Cora Coralina


O Dia da Terra foi criado pelo senador norte-americano Gaylord Nelson, um activista ambiental, tendo por finalidade criar uma consciência comum para os problemas que afligem a Terra, depois de verificar as consequências do desastre petrolífero de Santa Barbara, na Califórnia, ocorrido em 1969.
Na primeira manifestação que teve lugar no dia 22 de Abril de 1970, para a criação de uma agenda ambiental, participaram duas mil universidades, dez mil escolas primárias e secundárias e centenas de comunidades. A pressão social teve sucesso e o governos dos Estados Unidos criaram a Agencia de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency) e uma série de leis destinadas à proteção do meio ambiente. Em 2009 as Nações Unidas instituíram o Dia Internacional da Mãe Terra.
...A informação sobre as possíveis ameaças em resultado do desenvolvimento insustentável parece não assustar a humanidade. Afinal, a Terra continua a dar-nos água, alimento (mais para uns do que para outros), recursos vários.
O ponto de não retorno ainda não foi atingido e a “teoria de Gaia”, proposta por James Lovelock, parece continuar a resultar: o planeta Terra mostra resiliência, como se se tratasse dum superorganismo, apesar de todos os riscos que o Homem lhe faz correr. Lembra a história de Pedro e o Lobo. Os lenhadores não acreditavam nas partidas que o Pedro pregava, porque não havia lobo, o problema foi quando ele apareceu mesmo. No caso do nosso planeta, os cientistas avisam, não para pregar partidas, mas para alertar para os riscos e consequências das nossas opções...” - (Excerto de um Artigo publicado no Jornal “O Público” na coluna Opinião, pela Prof. Dra. Maria Amélia Martins-Loução).
Astronomicamente, a nossa Mãe Terra é o terceiro planeta a contar do Sol, o mais denso e o quinto maior dos oito planetas do Sistema Solar, sendo também conhecido por Planeta Azul. É também o maior dos quatro planetas telúricos e (até agora), o único onde é conhecida a existência de vida tal como a concebemos.
Mitologicamente, a Terra é a substância universal Prakriti, o caos primordial, a matéria-prima separada das águas, segundo o Génesis; trazida à superfície das águas pelo javali de Vixnu; coagulada pelos heróis míticos do xintoísmo; matéria com que o Criador (na China, Niukua) molda o homem.
A Terra simboliza a função maternal: Tellus Mater. Ela dá e tira a vida. Prostrando-se no chão, Job escreve: Saí nu do ventre da minha mãe e nu voltarei para ele (1, 21), identificando a terra-mãe com o colo maternal. Na religião védica, a terra simboliza também a mãe, fonte do ser e da vida, protectora contra todas as forças do aniquilamento. Segundo os ritos védicos dos funerais, no momento em que a urna funerária contendo os restos da incineração é enterrada, são recitados versos:
Vai para esta Terra, tua mãe,
para as vastas moradas, para os bons favores!
Suave como a lã a quem a soube dar,
que ela te proteja do Nada!
Forma uma abóbada para ele e não o esmagues;
recebe-o Terra, acolhe-o!
Cobre-o com uma orla do teu vestido
como uma mãe protege o seu filho”. (Rig Veda, Grhyasutra, 4, 1)
Segundo a Teogonia, de Hesíodo, ela (Gaia) deu à luz o próprio Céu (Úrano), que deveria cobri-la a seguir para dar origem a todos os deuses. Os deuses imitaram esta primeira hierogamia, depois os homens, e os animais; a Terra revelou-se a origem de toda a vida, e foi-lhe dado o nome de Grande Mãe.
No Japão supõe-se que a terra é transportada por um enorme peixe; na Índia, por uma tartaruga; entre os Ameríndios por uma serpente; no Egipto, por um escaravelho; no Sueste da Ásia, por um elefante, etc. Os sismos explicam-se pelos movimentos repentinos desses animais geóforos que correspondem às fases da evolução.
Na literatura identifica-se muitas vezes a terra fértil com a mulher: sulcos semeados, lavoura e penetração sexual, parto e colheita, trabalho agrícola e acto gerador, colheita dos frutos e aleitamento, a relha do arado e o falo do homem.
Paul Diel esboçou toda uma psicogeografia dos símbolos na qual a superfície plana da terra representa o homem enquanto ser consciente; o mundo subterrâneo com os seus demónios e os seus monstros ou divindades malevolentes, representa o subconsciente; os cumes mais elevados, mais próximos do céu, são a imagem do supraconsciente. Ela é a arena dos conflitos da consciência do ser humano.


Poema da Terra Adubada

Por detrás das árvores não se escondem faunos, não.
Por detrás das árvores escondem-se os soldados
com granadas de mão.

As árvores são belas com os troncos dourados.
São boas e largas para esconder soldados.

Não é o vento que rumoreja nas folhas,
não é o vento, não.
São os corpos dos soldados rastejando no chão.

O brilho súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes.
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre os dentes.

As rubras flores vermelhas não são papoilas, não.
É o sangue dos soldados que está vertido no chão.

Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar.
São os silvos das balas cortando a espessura do ar.

Depois os lavradores
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão e flores
adubada com os corpos dos soldados.

António Gedeão, in 'Linhas de Força'

Fontes: www.wikipédia.org
Jornal “O Público”
Chevalier, Jean, Alain Gheerbrant – Dicionário dos Símbolos
Imagem: internet

terça-feira, 7 de abril de 2015

Gabriela Mistral

Gabriela Mistral, pseudónimo da poetisa chilena Lucila de María del Perpetuo Socorro Godoy Alcayaga, nasceu a 7 de Abril de 1889, na pequena vila de Vicuña, no Vale de Equi, a norte do Chile, filha de Juan Jerónimo Godoy Villanueva, e de Petronila Alcayaga Rojas, de ascendência basca. Foi criada na aldeia de Monte Grande, no mesmo vale, por sua mãe e uma irmã mais velha. O pai, um professor primário, que escrevia pequenos poemas para ela e lhos cantava à guitarra, abandonou a família quando ela tinha 3 anos de idade. Dele, como diria mais tarde Gabriela, herdou a veia poética e a alma nómada.
Poetisa, educadora, diplomata e feminista chilena, foi a primeira escritora latino-americana a receber o Prémio Nobel de Literatura, em 1945, sendo comparada a Unamuno por alguns críticos. Eugénio d'Ors chamou-lhe o “Anjo da Guarda da República do Chile”. Ninguém como ela sentiu e descreveu os contrastes da paisagem chilena.
Tida como um exemplo de honestidade moral e intelectual e movida por um profundo sentimento religioso, a tragédia do suicídio do noivo marcou toda a sua poesia com um forte sentimento de carinho maternal, principalmente nos seus poemas em relação às crianças. Na sua obra aparecem como temas recorrentes: o amor pelos humildes, um interesse mais amplo por toda a humanidade.
Iniciou a sua vida aos 15 anos, dando aulas e em 1914 obtém o 1º Prémio nos Jogos Florais de Santiago do Chile com “Sonetos de La Muerte”, sob o pseudónimo de Gabriela Mistral, formado a partir do nome dos seus dois poetas preferidos – o italiano Gabriel D'Annunzio e o francês Frederico Mistral - e com o qual se tornou universalmente conhecida. Os “Sonetos” foram inspirados pelo suicídio do seu noivo em 1909. Gabrielle nunca se casaria mas em 1946 conheceu a escritora estadounidense Doris Dana, com quem estabeleceu uma relação de amizade que se manteve até à sua morte e a quem confiou a sua obra, para que os direitos obtidos pela sua venda fossem destinados às crianças de Montegrande.
Os temas centrais nos seus poemas são o amor, o amor de mãe, memórias pessoais dolorosas, mágoa e recuperação. A mãe de Lucila faleceu no ano de 1929 e a escritora dedicou-lhe a primeira parte de seu livro Tala, a que chamou: Muerte de mi Madre.
Em 1922, o Instituto Hispânico de Nova Iorque publicou uma colectânea das suas poesias dispersas, sob o título de “Desolação”, na qual está incluído o poema “Dolor” onde fala da perda do seu amado. O sentimento de maternidade frustrada aparece nos trabalhos seguintes, Ternura (1924) e Tala (1938). Escreve depois Nuvens Brancas (1930), A Oração da Mestra, que lhe valeu o título de Cantora da Raça (1930), Leituras para Mulheres (1932), Vidas de Artesãos Franceses, obra-prima de prosa, e Vida de S. Francisco de Assis uma obra excepcional, que reflecte tendências para o misticismo e religiosidade. Antologia (1941), Lagar (1954), Recados Contando a Chile (1957), Poema de Chile (1967).
Em 1922, foi encarregada de estudar, no México a organização de bibliotecas. Representou o Chile no Congresso dos Educadores, em Lucarno, e na Conferência International das Universidades, em Madrid.
O Prêmio Nobel transformou-a em figura de destaque na literatura internacional o que a levou a viajar por todo o mundo e representar seu país em comissões culturais das Nações Unidas. A notoriedade a obrigou a abandonar o ensino para desempenhar diversos cargos diplomáticos na Europa. Foi Secretária do Instituto de Cooperação Intelectual da Sociedade das Nações; desempenhou funções consulares em diversos países: Génova, Madrid, Lisboa, Petrópolis, Los Angeles. Conhecia Portugal, sendo admiradora de Gil Vicente.
Sofrendo de diabetes e com problemas cardíacos faleceu em 1957 numa clínica em Hempstead, estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Três anos depois de morrer, o seu corpo foi trasladado, do Cemitério Geral de Santiago para a sua aldeia natal, onde a população prestou uma comovida homenagem à sua memória. O Governo chileno determinou que a casa onde nascera e vivera fosse considerado monumento nacional. Foi sepultada por sua expressa determinação numa colina junto do Monte Grande, em cripta aberta na terra, apenas coberta por uma pedra, na qual se encontra o seguinte epitáfio:
Gabriela Mistral – Prémio Nobel, 1945 – 7-4-1889 – 10-1-1957. O que a alma faz pelo seu corpo é o que o artista faz pelo seu povo. G.M.”.




LOS SONETOS DE LA MUERTE


Del nicho helado en que los hombres te pusieron,
te bajaré a la tierra humilde y soleada.
Que he de dormirme en ella los hombres no supieron,
y que hemos de soñar sobre la misma almohada.

Te acostaré en la tierra soleada con una
dulcedumbre de madre para el hijo dormido,
y la tierra ha de hacerse suavidades de cuna
al recibir tu cuerpo de niño dolorido,

Luego iré espolvoreando tierra y polvo de rosas,
y en la azulada y leve polvoreda de luna,
los despojos livianos irán quedando presos.

Me alejaré cantando mis venganzas hermosas,
¡porque a ese hondor recóndito la mano de ninguna
bajará a disputarme tu puñado de huesos!


LA MAESTRA RURAL

La maestra era pura. "Los suaves hortelanos",
decía, "de este predio, que es predio de Jesús,
han de conservar puros los ojos y las manos,
guardar claros sus óleos, para dar clara luz".

La maestra era pobre. Su reino no es humano.
(Así en el doloroso sembrador de Israel.)
Vestía sayas pardas, no enjoyaba su mano
¡y era todo su espíritu un inmenso joyel!

La maestra era alegre. ¡Pobre mujer herida!
Su sonrisa fue un modo de llorar con bondad.
Por sobre la sandalia rota y enrojecida,
era ella la insigne flor de su santidad.

¡Dulce ser! En su río de mieles, caudaloso,
largamente abrevaba sus tigres el dolor.
Los hierros que le abrieron el pecho generoso
¡más anchas le dejaron las cuencas del amor!

¡Oh labriego, cuyo hijo de su labio aprendía
el himno y la plegaria, nunca viste el fulgor
del lucero cautivo que en sus carnes ardía:
pasaste sin besar su corazòn en flor!

Campesina, ¿recuerdas que alguna vez prendiste
su nombre a un comentario brutal o baladí?
Cien veces la miraste, ninguna vez la viste
¡y en el solar de tu hijo, de ella hay más que de ti!

Pasò por él su fina, su delicada esteva,
abriendo surcos donde alojar perfección.
La albada de virtudes de que lento se nieva
es suya. Campesina, ¿no le pides perdón?

Daba sombra por una selva su encina hendida
el día en que la muerte la convidò a partir.
Pensando en que su madre la esperaba dormida,
a La de Ojos Profundos se dio sin resistir.

Y en su Dios se ha dormido, como en cojín de luna;
almohada de sus sienes, una constelación;
canta el Padre para ella sus canciones de cuna
¡y la paz llueve largo sobre su corazón!

Como un henchido vaso, traía el alma hecha
para dar ambrosía de toda eternidad;
y era su vida humana la dilatada brecha
que suele abrirse el Padre para echar claridad.

Por eso aún el polvo de sus huesos sustenta
púrpura de rosales de violento llamear.
¡Y el cuidador de tumbas, como aroma, me cuenta,
las plantas del que huella sus huesos, al pasar!




Fontes: www.wikipedia,org.
Lopes de Oliveira, Américo – Dicionário de Mulheres Célebres
Poemas: www.los-poetas.com.

sábado, 4 de abril de 2015

PÁSCOA 2015


Domingo de Ressurreição

Páscoa ou Domingo da Ressurreição é uma festividade religiosa que celebra a ressurreição de Jesus ocorrida três dias depois da sua crucificação no Calvário, conforme o relato do Novo Testamento. É a principal celebração do ano litúrgico cristão e também a mais antiga e importante festa cristã. A data da Páscoa determina todas as demais datas das festas móveis cristãs, exceto as relacionadas ao Advento. O domingo de Páscoa marca o ápice da Paixão de Cristo e é precedido pela Quaresma, um período de quarenta dias de jejum, orações e penitências e seguido por um período de cinquenta dias chamado Época da Páscoa que se estende até o Domingo de Pentecostes.
O termo "Páscoa" que significa passagem deriva, através do latim Pascha e do grego bíblico Πάσχα Paskha, do hebraico פֶּסַח (Pesaḥ ou Pesach), a Páscoa judaica.
É também uma festa móvel, o que significa que sua data não é fixa em relação ao calendário civil. O Primeiro Concílio de Niceia (325) estabeleceu a data da Páscoa como sendo o primeiro domingo depois da lua cheia após o início do equinócio vernal (a chamada lua cheia pascal). Do ponto de vista eclesiástico, o equinócio vernal acontece em 21 de março (embora ocorra no dia 20 de março na maioria dos anos do ponto de vista astronómico) e a "lua cheia" não ocorre necessariamente na data correta astronómica. Por isso, a data da Páscoa varia entre 22 de março e 25 de abril (inclusive). Os cristãos orientais baseiam seus cálculos no calendário juliano, cuja data de 21 de março corresponde, no século XXI, ao dia 3 de abril no calendário gregoriano utilizado no ocidente. Por conseguinte, a Páscoa no oriente varia entre 4 de abril e 8 de maio inclusive.
A Páscoa já era comemorada antes da época de Jesus Cristo. Tratava-se da comemoração do povo judeu por terem sido libertados da escravidão no Egito, que durou cerca de 400 anos. Essa libertação coincidiu com a Primavera, que ocorria no mês hebraico (nissan) que corresponde mais ou menos aos últimos dias de Março e meados de Abril, quando na bacia do Mediterrâneo começava a Primavera.
Os costumes pascais variam bastante entre os cristãos do mundo inteiro e incluem missas matinais, a troca do cumprimento pascal e de ovos de Páscoa, que eram, originalmente, um símbolo do túmulo vazio. Muitos outros costumes passaram a ser associados à Páscoa e são observados por cristãos e não-cristãos, como a caça aos ovos, o coelho da Páscoa e a Parada da Páscoa. Há também uma grande quantidade de pratos típicos ligados à Pascoa e que variam de região para região.
A produção de imagens ancoradas na temática hierática e, sobretudo, na emblemática figura do Cristo, remonta às representações artísticas da Alta Idade Média, documentadas a partir do século III. No período paleocristão, a concepção iconográfica de Jesus encontra-se representada quase que exclusivamente na figura do Cristo como o “Bom Pastor”. O enriquecimento da cultura iconográfica cristã após a promulgação do Édito de Milão permitiu a ampliação dos ciclos narrativos.
Na Baixa Idade Média, a predominância da figura de Cristo como “bom pastor” foi sendo progressivamente substituída pela do “cordeiro em sacrifício”, abrindo espaço para as representações do episódio da ressurreição. A fonte primária do tema é o Evangelho de João (capítulos 20 e 21), em que se narra de forma concisa o fenómeno da ressurreição e da aparição de Jesus a Maria Madalena.
A cena do Cristo ressuscitado, ostentando o estandarte da ressurreição, e elevando-se sobre o sarcófago na presença dos soldados – alternativamente retratados inconscientes, fascinados ou espantados diante do fenômeno que observam –, tornou-se relativamente frequente na cultura pictórica do Renascimento. Artistas como Perugino e Piero della Francesca dedicaram-se ao tema, que, ademais, encontra ressonâncias para além das fronteiras italianas, nomeadamente na Alemanha, em obras de Matthias Grünewald e Albrecht Altdorfer.



A Ressurreição de Cristo – Piero della Francesca

A Ressurreição é uma pintura do grande mestre renascentista italiano Piero della Francesca, terminada por volta de 1460. Aldous Huxley referiu-se a ela como ‘a pintura mais bela do mundo’. Pode ser vista no Museo Civico de Sansepolcro (Toscânia), cidade natal do artista. O tema da imagem faz alusão ao nome da cidade (que significa "Santo Sepulcro"), derivada da presença de duas relíquias do Santo Sepulcro, realizado por dois peregrinos no século IX. Cristo está também presente no brasão da cidade.
Jesus está no centro da composição em forma piramidal, retratado no momento de sua ressurreição, como sugerido pela posição do pé no parapeito. A Sua figura, retratada com uma fixidez icónica e abstracta (e descrita por Aldous Huxley como "atlético"), paira sobre quatro soldados dormindo, o que representa a diferença entre o humano e o divino (ou a morte, derrotada pela luz de Cristo). A paisagem, imersa na luz do amanhecer, também tem um valor simbólico: o contraste entre as árvores florescendo na direita e os descalços na esquerda alude para a renovação dos homens através da luz da ressurreição.
Segundo a tradição, o soldado dormindo na armadura esverdeada à direita de Cristo é um auto-retrato de Piero. O contacto entre a sua cabeça e a haste da bandeira Guelfo transportada por Cristo é suposto representar o contacto do artista com a divindade. Outra curiosidade é que aparentemente o soldado com o escudo não tem pernas
Sansepolcro escapou ao fogo de artilharia durante a 2ª Guerra Mundial, porque Anthony Clarke, o capitão britânico encarregado da tarefa, havia lido o artigo já mencionado, de Aldous Huxley, sobre esta obra. O capitão nunca tinha visto a pintura, mas no último momento (os bombardeamentos já tinha começado) lembrou-se onde tinha ouvido falar de Sansepolcro e ordenou aos seus homens para parar. Uma mensagem recebida mais tarde informou que os alemães já se tinham retirado da área - o bombardeamento não foi necessário. A cidade, juntamente com o seu famoso quadro, sobreviveu e Clarke entrou na cidade à procura da pintura encontrando-a intacta. Saudado como um herói local tem em Sansepolcro uma rua com o seu nome.

Fontes e Imagem:www.wikipedia.org

Para todos os votos de uma Páscoa Feliz!




quinta-feira, 2 de abril de 2015

A ÚLTIMA CEIA

Última Ceia – Ícone de Teófanes, o Cretense
Enquanto comiam, tomou um pão e, depois de pronunciar a benção, partiu-o e entregou-o aos discípulos, dizendo: - Tomai, isto é o Meu corpo. - Depois, tomou o cálice, deu graças e entregou-lho. Todos beberam dele. E Ele disse-lhes: - Isto é o Meu sangue, sangue da aliança, que vai ser derramado por muitos. Em verdade vos digo: Não beberei do produto da videira até àquele dia em que o hei-de beber de novo no reino de Deus”.Marcos (14,22-25).
A Última Ceia ou a Santa Ceia, é o nome dado à última refeição que, de acordo com os cristãos, Jesus tomou com os seus apóstolos em Jerusalém antes da sua crucificação.
O relato mais antigo provém do Evangelho de Marcos, que foi produzido por volta do ano 70 d.C., seguido do de Mateus, por volta dos anos 70 a 90 d.C., Lucas em 90 d.C., e, por fim, o de João, escrito entre os anos 100 e 110 d.C. Além disso, é também mencionada na Epístola de S. Paulo aos Coríntios (I Coríntios 11,23, 26-3), e é comemorada na chamada Quinta-Feira Santa.
Em Marcos (14,12-25), o relato da Ultima Ceia dá-se no primeiro dia dos Ázimos, numa “sala arrumada com almofadas”, onde, durante a refeição, Jesus anuncia que um de seus discípulos o irá trair.
O Evangelho de Mateus (26,17-29) ilustra o cenário de uma forma um pouco diferente, pois não há menção sobre o lugar em que decorre a Santa Ceia. O anúncio feito por Jesus de sua iminente traição segue como descrito em Marcos. Apenas há o detalhe adicional de que Judas pergunta a Jesus se será ele o traidor, o que confere uma maior dramatismo à cena. A ceia termina com o ritual do pão e do vinho, embora com algumas diferenças da versão feita por Marcos.
No Evangelho de Lucas (22,7-23), diferentemente dos de Marcos e Mateus, encontramos a informação de que a traição a Jesus teria ocorrido porque “Satanás entrou em Judas”. Outra diferença está na menção de que os discípulos foram enviados por Jesus à casa em que ocorreu a última ceia: João e Pedro (em Marcos, vemos apenas Jesus ordenando dois de seus discípulos que fossem a uma casa; e em Mateus, a dois discípulos se apresentam para procurar um lugar para a ceia). Aqui, tal como em Marcos, já há detalhes sobre a casa e o lugar em que Jesus e seus discípulos realizaram a ceia.
O acto é encerrado com as palavras rituais que são similares àquelas vistas em Mateus, com o diferencial de que Lucas deixa claro que o ritual do pão e do vinho deve ser repetido até que o reino de Deus seja instaurado. Essa mudança é significativa quando posta em comparação com os dois evangelhos anteriores, já que tanto em Marcos quanto em Mateus, Jesus não deixa claro se o reino foi ou não instituído. O que o Nazareno diz é apenas que ele e seus discípulos beberão um novo vinho no reino de Deus.

Jesus lavando os pés dos discípulos – Mosaico do Mosteiro de Osias Lucas, na Beócia
No evangelho de João (13,1-30) não temos a Última Ceia, mas a cena do lava-pés aos discípulos em que Jesus lhes dá um novo mandamento: "Amai os outros como eu vos amei" e chamando os apóstolos que seguiam seus ensinamentos de "amigos e não servos". Apesar disso, é possível traçar paralelos com o material sinóptico (como são chamados os textos de Mateus, Marcos e Lucas, por poderem ser lidos em forma justaposta). Essa substituição da ceia pelo lava-pés é um dado significativo, ao sinalizar que, no século II d.C. (considerando que o evangelho de João foi escrito por volta do ano 110), não havia ainda consenso entre os primeiros cristãos sobre os eventos da última semana de vida de Jesus. Tanto o pão e o vinho como a água eram elementos empregados pelas comunidades paleocristãs (seguidores de Jesus, até o século IV, quando se institucionaliza a religião cristã) para manterem uma conexão espiritual com seu mestre
A Última Ceia, sendo um dos temas mais populares da arte cristã, foi objecto de múltiplos estudos e interpretações artísticas ao longo dos séculos.
As suas primeiras representações remontam ao cristianismo primitivo e podem ser vistas nas Catacumbas de Roma. Artistas bizantinos frequentemente pintavam os apóstolos recebendo a comunhão ao invés de figuras reclinadas ceando. Na época do Renascimento, tornou-se um tópico favorito da arte italiana.
Há três grandes temas nas representações artísticas da Última Ceia. O primeiro é a dramática e dinâmica cena em Jesus anuncia que será traído. O segundo é o momento da instituição da Eucaristia, e o terceiro é o Discurso do Adeus, no qual Judas Iscariotes já não se encontra presente, mas onde se sente a tristeza pela eminente partida do Senhor.

Discurso do Adeus, por Duccio
Talvez a mais conhecida destas obras seja a de Leonardo da Vinci, pintada em 1497 numa das paredes do refeitório dos monges do Convento de Santa Maria Delle Grazie em Milão, e onde pode ser admirada, apesar deste mosteiro ter sido bombardeado durante a Segunda Guerra Mundial.
Pela primeira vez as figuras não apresentam as auréolas de santidade, na mesa há vários alimentos, pão, laranjas, peixe, vinho, sal e água, mas não se vê carne e também não existe nenhum cálice (o Santo Graal) em frente a Jesus, mas apenas copos de vidro.
Desde que a pintura de Leonardo da Vinci se tornou famosa, houve estudos sobre as técnicas ali usadas, sobre as tintas e sobre a complexa interacção entre Jesus e os discípulos evidenciada na imagem.
Como esta pintura já é por demais conhecida, apresento aqui a obra que foi pintada por Jacopo Tintoretto, que pela sua energia fenomenal em pintar, foi chamado Il Furioso, e a sua dramática utilização da perspectiva e dos efeitos da luz fez dele um dos precursores do Barroco.

Última Ceia – Jacopo Tintoretto

Fontes e Imagens: www.wikipedia.org
Entre a História e os evangelhos” - Revista História Viva n. 137
www.snpcultura.org